Preservação da fertilidade em pacientes com câncer

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Alice Ribeiro | Embriologista

 

O congelamento de gametas tornou-se uma técnica fundamental em reprodução assistida fornecendo a oportunidade de manter a saúde reprodutiva do paciente portempo indeterminado. A criopreservação de oócitos em pacientes que desejam postergar a maternidade, ou com risco de uma menopausa precoce, é algo rotineiro em qualquer laboratório de reprodução assistida. Assim como o congelamento de sêmen é considerado um procedimento-padrão antes do paciente se submeter a uma vasectomia. Porém, pacientes com câncer se apresentam como os maiores beneficiários das técnicas de preservação da fertilidade. O alvo principal das terapias contra o câncer é a interrupção do ciclo celular, o que provoca graves defeitos no DNA e em seus mecanismos de replicação, podendo levar à infertilidade permanente.

 

A radioterapia e quimioterapia possuem efeitos graves sobre a fertilidade masculina. Dependendo da dose de radiação e do tipo de agente quimioterápico, a concentração espermática pode ser alterada, havendo diminuição no número de espermatozoides no ejaculado ou até mesmo a paralisação da produção dos mesmos (azoospermia). Além da alteração na concentração espermática, o DNA dos espermatozoides também pode sofrer danos. Irradiações em determinada fase do ciclo celular induzem aberrações cromossômicas, diminuindo a capacidade de fertilização desses espermatozoides. Cirurgias relacionadas ao câncer de testículo e próstata também possuem um grande impacto na saúde reprodutiva do homem, podendo resultar na infertilidade permanente (quando há a retirada dos dois testículos) ou provocar graves perturbações na ejaculação, qualidade espermática e função erétil.

 

Nas mulheres, os danos causados pela radioterapia e quimioterapia também dependem da dose e do campo de irradiação, do tipo de agente quimioterápico e da idade a paciente. No entanto, sabe-se que a radiação pode ter um impacto negativo direto sobre a função ovariana e no útero através da alteração da vascularização, além de produzir uma perda de 50% da reserva folicular. Os agentes quimioterápicos afetam a função ovariana por vários mecanismos, como o empobrecimento folicular, dano vascular, fibrose e alteração no ciclo menstrual.

 

Atualmente, o método estabelecido para a preservação da fertilidade em pacientes do sexo masculino é a criopreservação dos espermatozoides em adolescentes e adultos. Em pacientes pré-púberes, a criopreservação de biópsia testicular é oferecida em alguns centros, mas a forma de utilização desse tecido no futuro é incerta. Em mulheres adultas, a criopreservação de oócitos é a opção preferida, enquanto para meninas pré-púberes a criopreservação de tecido ovariano com posterior reimplante é a única possibilidade; porém, essa técnica ainda é considerada experimental na maioria dos países.

 

 

Pacientes que se submetem a tratamentos oncológicos possuem muitas incertezas quanto ao futuro, e a saúde reprodutiva é uma dessas questões. Assim, a criopreservação de gametas oferece aos pacientes opções reais de preservar a fertilidade, sendo de extrema importância que informações sobre opções e técnicas para a preservação da fertilidade sejam abordadas logo que um tratamento oncológico é indicado.

 

Fonte: Revista do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva

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