Infertilidade e estilo de vida

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Ana Luiza Berwanger | Ginecologista

 

Sabe-se que a fertilidade de um casal depende da perfeita harmonia entre vários aspectos, dentre eles, hormonais e anatômicos. Um estado da saúde geral adequado, porém, também se mostra condição essencial para que a concepção ocorra, e a gestação evolua de maneira segura e adequada. O estilo de vida, envolvendo questões como tabagismo, alimentação e estresse, é apontado e questionado como um dos possíveis fatores que podem dificultar o plano de ter filhos. Alguns desses fatores são discutidos a seguir.

 

Tabagismo: o consumo de tabaco é conhecido como causa de subfertilidade, tanto feminina quanto masculina, sendo apontado como fator principal em até 13% dos casais inférteis (1). Nas mulheres, o tabaco tem sido associado a alterações nas trompas e no muco cervical, dano aos óvulos, aborto espontâneo e gestação ectópica (2). Relaciona-se também a uma diminuição prematura do pool folicular dos ovários e ao seu envelhecimento precoce. Já no homem, o cigarro pode ser responsável por diminuição de até 20% na concentração e 15% na motilidade espermáticas (3). Uma preocupação em especial é o fato de que as alterações causadas pelo cigarro não podem ser anuladas por métodos de Reprodução Assistida. Acredita-se que esses efeitos deletérios possam ser revertidos após 1 ano livre do cigarro.

 

Peso: tanto o excesso quanto a falta de peso são associados à diminuição da fertilidade. Um IMC (índice de massa corporal) entre 17,5 e 25 kg/m2 é considerado ideal para os casais que estão tentando gestar. Em mulheres obesas a redução de peso tanto cirúrgica quanto não cirúrgica mostra-se comprovadamente benéfica (4). Um IMC alto parece levar à hiperinsulinemia e ao excesso androgênico, alterando o funcionamento ovariano. Um peso insuficiente também pode dificultar na ovulação. Igualmente, no homem, o excesso de peso associa-se a um estado hormonal inadequado.

 

Uso de álcool: a quantidade exata segura para uso de álcool no período da concepção ainda não foi estabelecida, mas acredita-se que < 2 taças/dia de bebidas não destiladas não se associe à diminuição da fertilidade (5,6). Por outro lado, a abstinência alcoólica é recomendada durante toda a gestação,incluindo as primeiras semanas.

 

Dieta: em casais saudáveis, não há evidências fortes de que uma dieta específica seja associada à melhora da fertilidade (6), exceto em casos de doença celíaca (intolerância total ao glúten) não diagnosticada. Por outro lado, o glúten tem sido associado a processos inflamatórios diversos, o que poderia influenciar na concepção (7). Em alguns estudos observacionais, mostrou-se que a “dieta da fertilidade” mais apropriada seria aquela livre de gordura trans, rica em proteínas (principalmente de origem vegetal), baixo índice glicêmico, rica em laticínios e ferro (8-11). Apesar da falta de estudos adequados, é altamente recomendada, por tratar-se de uma alimentação saudável, favorecendo a homeostase glicêmica e insulínica.

 

Estresse: estudos observacionais associam altos níveis de estresse à infertilidade; por outro lado, o diagnóstico e tratamento dessa condição, por si só, constituem-se em fatores geradores de estresse (6). Não há evidências estatísticas de que o estresse possa ser causador único da dificuldade de engravidar, porém, por estar normalmente envolvido no tratamento e por influenciar de forma importante a vida conjugal, medidas como acompanhamento psicológico, e a própria atividade física são recomendadas.

 

Fonte: Revista do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva

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