Tempo de amamentação aumenta inteligência e renda futura dos bebês

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Já é lugar-comum lembrar que o leite materno protege o bebê contra diversas doenças e alergias, mas uma pesquisa publicada em março deste ano acaba de apontar que não só a saúde, como também a educação começam no ato de amamentar.

 

Em um estudo de fôlego que monitorou 3.493 indivíduos ao longo de três décadas, pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) identificaram que crianças amamentadas por pelo menos um ano obtiveram, aos 30 anos de idade, quatro pontos a mais em testes de Q.I. e vantagem de cerca de R$ 350 na renda mensal em relação aos participantes submetidos a apenas um mês de aleitamento materno.

 

Os dados se destacam por sugerir que o tempo de amamentação tem incidência de longo prazo sobre a constituição da inteligência e a renda futura dos recém-nascidos. Iniciado em 1982 e coordenado pelos professores Cesar Victora e Bernardo Horta (ambos do Centro de Epidemio logia da UFPel), o estudo foi publicado em uma das revistas científicas mais importantes do mundo, The Lancet, sendo o primeiro internacionalmente a traçar relação direta entre amamentação e renda.

 

 Esse foi também o primeiro estudo no Brasil a concluir pelo impacto da amamentação no Q.I., que seria explicado pela presença, no leite materno, de ácidos-graxos saturados de cadeia longa, essenciais para o desenvolvimento do cérebro.

 

“A amamentação está associada ao aumento de performance em testes de inteligência 30 anos depois, e pode ter um efeito importante na vida real, ao aumentar o desempenho escolar e a renda na idade adulta”, conclui o time de pesquisadores, ressaltando os efeitos tanto individuais quanto sociais do aleitamento materno.

 

Para se certificar de que os resultados mantinham elo com a amamentação, os cientistas monitoraram outras dez variáveis com possível influência, como a renda familiar ao nascimento, o grau de escolaridade dos pais, ancestralidade genômica, tabagismo materno durante a gravidez, idade materna, peso ao nascer e tipo de parto.

 

Também constatou-se que os níveis de amamentação no Brasil não variavam de acordo com a classe social das mães, ou seja, quem se deu melhor na vida adulta não necessariamente provinha de berços mais privilegiados economicamente.

 

Inicialmente, quase 6 mil participantes foram distribuídos em cinco grupos de acordo com a duração do aleitamento. No levantamento final, dentre os 3,5 mil adultos com acompanhamento completo desde o nascimento, todos aqueles nutridos por mais tempo com leite materno apresentaram inteligência, escolaridade e renda superiores. Quanto maior o tempo de aleitamento, maiores os benefícios.

 

Pátria amamentadora

De acordo com levantamento do Ministério da Saúde com quase 120 mil crianças, o tempo médio do período de aleitamento materno no país cresceu um mês e meio, passando de 296 dias (1999) para 342 dias (2008). Ainda em 2008, 41% das mães brasileiras dedicavam os seis primeiros meses de vida do bebê à amamentação exclusiva, cumprindo recomendação da Organização Mundial de Saúde. Estima-se que esse índice já tenha aumentado em 10,2%.

 

“Os impactos positivos mostrados pela pesquisa da Uni- versidade de Pelotas são mais um motivo para o investimento contínuo do Ministério da Saúde, pensando no desenvolvimento pleno das crianças durante a vida”, afirma o coordenador de saúde da criança e aleitamento materno do Ministério da Saúde, Paulo Bonilha.

 

Fonte: Revista do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva

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