Nutrição funcional em reprodução

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Nutrição funcionalSBRH – O que é nutrição funcional?

 

Gabriel de Carvalho –  Nutrição funcional é uma forma prática e analisar como uma pessoa saudável pode desenvolver patologias, um sistema de análise da origem do processo de doença. A teia da nutrição funcional é composta de oito partes; estes pontos se relacionam mutuamente e são todos fundamentais. O primeiro elemento é o desequilíbrio nutricional – nutrientes que temos em excesso ou em falta. O segundo elemento é o processo inflamatório e as alterações de imunidade, processos de sensibilidade alimentar, hipersensibilidade e alergias. O terceiro elemento tem a ver com o equilíbrio oxidativo relutivo e a formação de energia em nível mitocondrial. O quarto elemento é a saúde gastrointestinal. O quinto elemento são os desequilíbrios estruturais que envolvem o processo osteomioarticular e a estrutura da membrana celular, que é composta pelas gorduras que vem da nossa dieta. Depois temos os problemas de detoxificação, como detoxificamos aquilo que vem do meio ambiente, as interações corpo-mente-espírito, os desequilíbrios mentais, emocionais e espirituais. E o último elemento são as disfunções neuroendócrinas. 

 

SBRH – Existem alimentos que podem ser listados como favoráveis e outros que podem ser classificados como desfavoráveis à reprodução humana?

 

Gabriel de Carvalho – Esta é uma pergunta genérica que tenta chegar ao específico, e desfavorece uma conduta da nutrição funcional que é a individualidade. Se pensarmos somente no alimento, parece que qualquer pessoa que comer agar irá melhorar a fertilidade ou se comer arroz branco vai piorar a fertilidade. O que se pode dizer e que há uma composição alimentar ou um conjunto de hábitos que favorece ou desfavorece. A alimentação com alimentos desnutridos, intoxicados, processados, oxidados, glicados é a que desfavorece. E tudo que é ao contrário, que é o alimento natural, rico em nutrientes, vitaminas do complexo B (presente nos alimentos integrais, gorduras adequadas, alimentos crus com enzimas adequadas no seu interior, nos minerais das sementes), favorecem a reprodução. Quanto mais inflamatória a alimentação (mais gorduras fritas, gorduras oxidadas e outras) pior o estado reprodutivo. É a composição alimentar e não alimentos isolados.

 

SBRH – Qual a importância de alimentos antioxidantes no processo reprodutivo?

 

Gabriel de Carvalho – Esta pergunta é fundamental. Temos que pensar em glândulas como um tecido de alto consumo energético. Como tem um consumo muito grande, tem uma riqueza mitocondrial muito grande e uma quantidade de gordura muito grande. As mitocôndrias são as estruturas celulares que mais produzem radicais livres, são nossa usina energética, produzindo radicais super óxidos e outros radicais derivados. O DNA mitocondrial é altamente suscetível a este stress oxidativo. Os alimentos antioxidantes sejam alimentos ricos em selênio, zinco, cobre, manganês e ferro que são fundamentais, as enzimas antioxidantes (agar, mirtilo, uva, framboesa, morango, frutas cítricas), o grupo das brássicas (couve, brócolis e etc.), são importantes porque vão ajudar a diminuir o ataque desses radicais livres produzidos em nível mitocondrial contra o próprio DNA, que vai acabar gerando, com o passar do anos, lesão nas glândulas, consequentemente diminuindo a sua função.

 

SBRH – Qual o papel dos alimentos ditos “causadores de alergias”? Como identificá-los?

 

Gabriel de Carvalho – Todo o alimento causador de alergia ou hipersensibilidade gera um processo inflamatório pela ativação imunológica e isso cronicamente gera stress oxidativo. Esta inflamação vai gerar, com o passar dos anos, uma depleção de antioxidantes no organismo que vai chegar a mitocondria, gerando mais stress oxidativo, lesão mitocondrial e diminuição da função da glândula. Para identificá-los temos que trabalhar muito nos sinais e sintomas de hipersensibilidade. Hoje o padrão ouro é a dieta de eliminção e desafio, ou seja, eliminar os alergenos por um período de 30-45 dias e reintroduzi-los. Tem alguns exames bioquímicos que não são considerados padrão ouro; realmente a clínica é o mais importante, o conhecimento clínico é fundamental.

 

SBRH – Qual o papel do glúten na infertilidade? Como identificar as mulheres com intolerância?

 

Gabriel de Carvalho – O glúten está relacionado a doença celíaca, que afeta cerca de 1% na população em geral e que pode se manifestar por infertilidade. É comum que existam outras condições clínicas, como lesões de pele, alterações de transaminases, enxaqueca, fadiga crônica, constipação ou diarréia, emagrecimento ou ganho de peso, mas infertilidade ou aborto de repetição podem ser manifestações únicas da doença celíaca. Outra manifestação é a sensibilidade ao glúten não celíaca – uma definição mais atual, de 2013 – em que os sinais e sintomas mais comuns são dor abdominal, eczema cutâneo, dor de cabeça, “fog mind” ou raciocínio difícil, fadiga e outros. Um histórico de infertilidade com depressão e dores de cabeça é sugestivo de doença celíaca ou de sensibilidade ao glúten. Excluída a doença celíaca, o teste diagnóstico para a sensibilidade ao glúten é parar de comer glúten durante 30-45 dias e observar os sintomas; se houver remissão, comer novamente e, se na reintrodução houver piora, está fechado o diagnóstico da sensibilidade ao glúten não celíaca.

 

SBRH – O que são aditivos alimentares e o que provocam?

 

Gabriel de Carvalho – Aditivos alimentares são substâncias adicionadas aos alimentos industrializados para melhorar diversas características, como aumentar a meia-vida de prateleira, utilizando conservantes e acidulantes. Outros dão uma característica interessante para aumentar o consumo, como os aromatizantes, edulcorantes ou adoçantes e, ainda, os flavorizantes para melhorar o sabor dos alimentos. Tem também edulcorantes com a função de mudar a textura. Eles provocam necessidade do organismo em eliminá-los e, como são substâncias estranhas, muitas derivadas do petróleo, precisam ser detoxificados pelo nosso sistema citocromo P450 e todo o sistema de detoxificação de fase 1. Assim, vão impactar a longo prazo no consumo de nutrientes e, se não forem equilibrados por alimentos antioxidantes, vão gerar stress oxidativo, radicais livres.

 

SBRH – Existe uma “dieta da fertilidade”?

 

Gabriel de Carvalho – Eu não colocaria desta forma. Existe uma dieta saudável de forma geral, mas não podemos dizer que todos os pacientes vão ter que ingerir glúten, ou que vamos ter que tirar o glúten de todo mundo, ou que vamos ter que colocar tal alimento para todos. É uma avaliação individualizada. Criar uma dieta padronizada e torná-la difícil demais, restrita de menos em alguns casos ou restrita demais em outros. Deve ser feita uma abordagem individualizada e tratar as causas. Por isso, olhar aqueles oito pontos da teia e não esquecer de abordar nenhum deles.

 

Gabriel de Carvalho – Nutricionista introdutor do conceito de Nutrição Funcional do Brasil em 1999 | Farmacêutico Bioquímico | Membro Fundador, ex presidente e Presidente de Honra do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional | Organizador da pagina: www.funcional.ntr.br | Diretor do Instituto de Nutrição Avançada

 

Fonte – Boletim SBRH

 

 

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