Medicina e espiritualidade

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    “O insuportável não é só a dor; mas a falta de sentido da dor. Mais ainda, a dor da falta de sentido.” Oswaldo Giacoia Junior

     

    A espiritualidade poderia ser definida como uma propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível: um sentido de conexão com algo maior que si próprio. Por isso, a espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa. Convém definir nesse cenário que a religiosidade e a espiritual idade, apesar de relacionadas, não são claramente descritas como sinônimos. A religiosidade envolve sistematização de culto e doutrina compartilhados por um grupo. E a espiritualidade está afeita ao significado e ao propósito da vida, com a crença em aspectos espiritualistas para justificar sua existência e significados.

     

    Ao longo dos séculos, a medicina passou de um vínculo completo com preceitos religiosos para uma ciência independente. Mais recentemente, os avanços científicos e tecnológicos causaram uma mudança no atendimento médico, com a instituição de um modelo de atendimento focado em cura orientada por tecnologia. E essa evolução nos levou a um avanço fenomenal, proporcionando a habilidade de prolongar a vida. No entanto, com esse modelo, os profissionais e cientistas da área da saúde passaram a concentrar suas atenções no corpo físico e a negligenciar os aspectos psicológicos, espirituais, sociais e ecológicos das doenças. Nas últimas décadas, muitos serviços de saúde têm buscado criar um balanço, reconhecendo que apesar dos tempos modernos a espiritualidade está frequentemente ligada ao processo de saúde.

     

    Nessa evolução, a Organização Mundial de Saúde (OMS) também revisou o conceito de saúde e definiu, em 22 de janeiro de 1998, que “saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade.”

     

    Alguns estudos observacionais sugerem que indivíduos que referem práticas espirituais regulares tendem a viver mais. Os autores lançam hipóteses de que o componente religioso pode ajudar no controle do stress por oferecer suporte social e fortalecer valores pessoais e compreensão do mundo. Pacientes espiritualizados podem utilizar suas crenças para lidar com doenças e dor. Estudos mostram que essas pessoas são mais otimistas e têm uma melhor qualidade de vida.

     

    A Association of American Medical Colleges reconhece que a espiritual idade é um fator que contribui para a saúde de muitas pessoas. Também defende que uma educação adequada na área da espiritual idade é fundamental na formação dos acadêmicos de medicina, recomendando que os estudantes sejam advertidos sobre espiritualidade e crenças culturais e suas práticas. Há menos de vinte anos eram poucas as faculdades de medicina norte-americanas que apresentavam essa disciplina em seus currículos. Atualmente, mais de 100 das 125 escolas médicas incluíram o conteúdo de espiritualidade em suas grades. Já no Reino Unido 59% das faculdades de medicina tem a disciplina de espiritual idade e apenas 10% das brasileiras a ministram. Nota-se que cresce a importância dada a esse tema junto à classe médica. E que assim seja.

     

    “A espiritualidade não começa onde a ciência termina, mas que ambas concorrem para uma busca do real, em que a ciência e religião se complementarão em um abraço grande e íntimo em uma nova visão do mundo.” Raul Marino Junior

     

    Adriana Arent – ginecologista

     

    Fonte: Revista Fertilitat

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