Um doador pode salvar, no mínimo, oito pessoas
Um ente querido tem morte encefálica diagnosticada. Neste momento, os familiares têm duas opções: ajudar com que vidas sejam salvas através de doação ou deixar que o corpo se desintegre. Com o objetivo de conscientizar para a importância da primeira escolha, foi instituído o dia 27 de setembro como o Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos. De acordo com a nefrologista associada da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), Clotilde Druck Garcia, é preciso livrar este assunto de tabus e conversar tranquilamente dentro de casa sobre a opção de reconstruir histórias com o transplante de órgãos.
– Temos que ter em mente o pensamento de que ninguém está livre de precisar de um transplante. O assunto ainda é um tabu, mas não adianta alguém querer ser doador e nunca comentar essa decisão com a família. São os parentes que precisam saber desta decisão no momento da constatação da morte encefálica do paciente. Por isso, sugiro que os familiares conversem dentro de casa sobre essa possibilidade. Essa cultura de que podemos reciclar a vida tem que estar clara – afirma Clotilde.
A médica, responsável pelos principais transplantes de rins em crianças no estado, ainda explica como funciona o processo entre a morte do doador e o momento em que o órgão passa a funcionar em outra pessoa, desmistificando o assunto.
– O paciente está na UTI e é constatada a morte encefálica. O médico comunica a central de transplantes e aciona a necessidade de outro médico avaliar se o paciente realmente apresenta a morte encefálica. Após, são feitos testes clínicos e de imagem, que são obrigatórios. Caso o diagnóstico seja confirmado, a família do paciente é consultada sobre a possibilidade da doação dos órgãos. O corpo, apesar da morte, é mantido vivo com respiração artificial, para que os testes sejam realizados e para que os órgãos permaneçam em bom funcionamento – explica.
O próximo passo é identificar quais estão em condições de serem doados e pesquisar quais pacientes da fila de espera possuem características similares. Segundo Clotilde, no mínimo oito vidas podem ser salvas com rins, fígado, coração, pâncreas e pulmão, além de doações de tecidos, como córneas, pele, ossos, válvulas cardíacas e cartilagens.
– É importante ressaltar que a morte encefálica ocorre decorrentemente às mortes súbitas, como acidentes, AVCs, atropelamentos e choques, por – exemplo. Nos casos com crianças, percebemos que os pais sentem-se reconfortados em ter um pedacinho do seu filho vivendo em outra criança – revela.
Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), que organiza informações sobre transplantes no país, mostram que houve crescimento nas doações de rim (5,8%), de fígado (7,4%) e córneas (7,6%) de janeiro a junho de 2017, em comparação ao mesmo período do ano passado. Outros transplantes apresentaram quedas, como nos casos de doações de coração (3,6%), pulmão (6,5%) e pâncreas (6%).
Segundo números da Central de Transplantes da Secretaria da Saúde do RS, em junho de 2017, 1.288 pessoas aguardavam um doador compatível. Neste mesmo mês, foram realizados 83 transplantes de órgãos e 142 de tecidos no estado.
Simpósio Gaúcho de Transplante de Orgãos e Tecidos
O tema foi debatido no Simpósio Gaúcho de Transplante de Órgãos e Tecidos, que aconteceu no dia 22 de setembro. Apoiado pela AMRIGS e promovido pelas Ligas de Transplante de Órgãos de Porto Alegre, o encontro ocorreu na sede da entidade, localizada na Avenida Ipiranga, n” 5311,em Porto Alegre (RS), das 14h às 21h.
Fonte: Jornal AMRIGS