Somos todos sociáveis

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Interagir com o outro, com o grupo social e viver em coletividade constituem parte da história da humanidade. Desde que o homem começou a se unir em tribos, visando a sobrevivência, a vida grupal é própria do desenvolvimento da nossa espécie. Como seres sociais, a interação com pessoas com as quais temos afinidade tem influência direta na saúde e na qualidade de vida. Por outro lado, o isolamento social é forte indicativo do declínio da saúde mental e emocional, porque viver é compartilhar.

 

“Viver ‘em relação’ é o saudável para o ser humano. Tanto que o grande desafio da vida consiste, justamente, em qualificar as relações”, observa a psicóloga Bárbara Cristina Steffen Rech. Por isso, um dos critérios de qualidade de vida mais relevantes é “ter com quem contar” em diferentes circunstâncias da vida. “É fundamental ter a convicção de não estar sozinho, de ser importante para alguém, de pertencer a grupos”. Essa necessidade de pertencimento e aceitação também é natural da condição humana e influencia muito as escolhas. “Desde as brincadeiras infantis, passando pela busca de grupos de iguais na adolescência, aos grupos que compartilham ideais e valores na vida adulta, em todos os momentos estamos buscando pertencer. Assim se constituem as amizades, a partir dessas experimentações vivenciais”, argumenta.

 

O neurologista Miguel Domingos Muratore reforça a opinião da psicóloga, dizendo que “todos temos necessidade de conviver com pessoas que nos conhecem e nos valorizam. O isolamento e a solidão, por sua vez, são males terríveis que levam à depressão e ao declínio cognitivo, além de problemas cardiovasculares, inflamatórios, baixa imunidade, alterações de comportamento e até Alzheimer”, enfatiza.

 

A presença é vital

 

Os profissionais concordam que a afinidade, a disposição para compartilhar e a atividade social mantêm corpo e mente ativos e mais saudáveis. E as amizades virtuais, das redes sociais? “Relacionamentos saudáveis requerem interação: linguagem verbal e não verbal; olho no olho, aconchego, reciprocidade. Incluem compartilhamento de experiências e valores de vida. Requerem, portanto, um certo nível de intimidade”, responde Bárbara, mesmo reconhecendo que “as redes sociais cumprem diversas funções, dentre as quais manter próximos amigos separados pela distância física. A manutenção de laços pode e deve ser feita de todas as formas possíveis. E, no mundo agitado em que vivemos, em que nem sempre temos agendas compatíveis, os recursos virtuais facilitam o cultivo de amizades estabelecidas”.

 

Mas, então, as redes sociais são saudáveis, sempre nos ajudam? A resposta, segundo a psicóloga, seria “depende”. “Depende do uso que fazemos. Se evitarmos a vivência plena das experiências, como uma fuga ou forma de proteção, aí as coisas não estão bem”, alerta.

 

O neurologista também compartilha a opinião de que o -contato, a presença, é saudável, pois otimiza as afinidades e estimula os processos cognitivos. “Isso só se treina na relação real, lembra Bárbara. É o que faz a vida valer a pena. Ter com quem compartilhar, com quem celebrar. Essa celebração sempre poderá ser em parte virtual, mas é fundamental ter aquelas pessoas próximas que transmitem a convicção de que realmente se importam e torcem por nós”, conclui.

 

Principais benefícios de ter amigos:

 

• Diminui o risco de adoecer;

• Aumenta a longevidade;

• Proporciona mais otimismo e felicidade no dia a dia;

• Melhora a saúde cardiovascular, fortalecendo o coração;

• Alívio ao dividir sentimentos;

• Propicia relações amorosas mais duradouras;

• Traz amadurecimento, para crianças e adultos.

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