Liderança: que entidade é esta?

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    Os líderes são essenciais e buscados à exaustão, mas infelizmente não podem ser fabricados em série, independentemente do quanto se disponha de recursos para este investimento. Com um talento nato, ele deve ser aquele tipo capaz de exercer, com naturalidade, a arte de comandar pessoas, atraindo seguidores e influenciando, de forma positiva, mentalidades e comportamentos. O “com naturalidade” foi colocado intencionalmente neste conceito, porque uma das características imprescindíveis da liderança é a espontaneidade com que ela é exercida. A propósito, Margareth Thatcher disse com sabedoria e conhecimento de causa: “Estar no poder é como ser uma dama. Se tiver que lembrar às pessoas que você é, você não é”.

     

    Difícil assumir que um líder possa surgir por geração espontânea, mas é esta a sensação que se tem com algumas lideranças de origem mais improvável. E, como a liderança é uma habilidade dificilmente transmitida geneticamente, é frequente que acompanhemos, pesarosos e desanimados, a evolução frustrante dos herdeiros de pais festejados e bem sucedidos, mas que deixados por conta e risco, naufragaram na incompetência, que não pôde ser evitada simplesmente pela triagem do DNA.

     

    Partindo de uma inteligência acima da média e com humildade para ouvir as pessoas mais experientes, é possível alcançar um nível reconhecido de liderança, mesmo que o processo demande um tempo mais longo. O mais improvável modelo de líder é o egocêntrico. Por alguma razão, esta deficiência é mais encontrada entre “líderes” que herdaram a empresa.

     

    O egocentrismo fecha as portas às sugestões alheias e despreza uma grande verdade: ninguém sabe tanto que não tenha nada para aprender, nem é tão ignorante que não tenha nada para ensinar. Da mesma maneira, se deve desacreditar dos que não conseguem delegar tarefas, porque esta incapacidade é, provavelmente, o maior bloqueador do desenvolvimento de um empresa. O maior desafio em liderança ativa, talvez seja construir a malha de comprometimento que será idealmente composta pela soma dos egos insuflados pelo reiterado reconhecimento da importância de cada integrante do processo, enaltecidos pela certeza de que, em trabalho de equipe, não existem tarefas secundárias. Uma das maiores responsabilidades do líder verdadeiro é a fomentação do espírito de grupo que segue o conceito antigo de um provérbio africano: “Se quiseres ir rápido, vá sozinho. Se quiseres ir longe, vá em grupo”.

     

    A maioria das empresas organiza seus planejamentos estratégicos, olhando para trás, no afã de não repetir erros antigos. Hoje se sabe que este cuidado é útil, mas insuficiente. A retrospecção, que é prudente, não pode reduzir a inquietude pelo novo. As empresas, de qualquer natureza, tendem a ser superadas se o foco principal for apenas a manutenção de resultados, porque, em um mundo de progressos efervescentes, nada garante que resultados que encantaram num certo momento, se repetirão.

     

    Ninguém imaginaria que, em menos de 5 anos, uma potência do tamanho da Kodak, seria engolida pelo Instagram que tem menos de 20 funcionários. Ou que as milhares de locadoras de vídeo da BlockBuster ao redor do mundo, seriam pulverizadas pela Netflix, uma empresa quase virtual. Por isto, a frase mais constante em discurso de homenagens aos lideres verdadeiros é “Ele/ela, é um tipo que sempre andou adiante do seu tempo”, uma versão mais sofisticada do “Quem não faz pó, come pó”.

     

    José J. Camargo

     

    Fonte: Jornal AMRIGS | Edição 2 2017

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