Depressão: um mal para vida pessoal e profissional

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Doença pode desencadear outras patologias, prejudicar relações interpessoais e, em casos extremos, levar à morte

 

U ma tristeza profunda e perda de interesse e prazer nas atividades do dia a dia. Estas são as principais características da depressão, que afeta cerca de 300 milhões de pessoas no mundo e quase 11 milhões no Brasil, país que apresenta a maior taxa na América Latina, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença já é considerada uma das principais causas de incapacidade no mundo.

 

O diagnóstico, de acordo com o presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS) e associado da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), Flávio Milman Shansis, é tomado a partir de critérios que vão além da tristeza.

 

– Os sintomas precisam ter uma duração mínima de duas semanas. Devem interferir profundamente na vida da pessoa e não podem ser consequência de outras causas como uma doença física ou uso de drogas. O diagnóstico deve ser feito por um médico e, em casos leves ou moderados, não há necessidade de acompanhamento de psiquiatra, podendo ser feito o tratamento pelo profissional que diagnosticou – explica Shansis.

 

O vice-presidente da AMRIGS e médico psiquiatra, Jair Rodrigues Escobar, explica que, além do fator genético, a depressão pode se originar através de fatores sociais e psicológicos.

 

– Pessoas que tiveram algum tipo de adversidade séria durante a vida, como a perda de um emprego, luto ou trauma estão mais propensas a serem afetadas pelo transtorno. Uma saúde física de má qualidade também pode levar à depressão – comenta Escobar.

 

Shansis afirma, ainda, que os fatores ambientais não exercem influência direta na causa da depressão. De acordo com o psiquiatra, os índices são parecidos em países desenvolvidos como Noruega e Finlândia e em países subdesenvolvidos, como Uganda. Porém, residir em regiões de vulnerabilidade social, pode ser um fator desencadeador da doença.

 

– A depressão pode estar relacionada a casos de infarto do miocárdio, hipertensão e diabete. Ter depressão aumenta em duas vezes a chance de morrer. Além disso, os deprimidos perdem mais empregos, enfrentam problemas nos casamentos e sofrem com o nível socioeconômico – destaca o diretor da AMRIGS.

 

Escobar explica que episódios depressivos de grau leve podem causar alguma dificuldade para a pessoa afetada continuar com o trabalho ou interagir socialmente, mas sem grande prejuízo em seu funcionamento global.

 

– Já os casos graves podem, sim, impedir que o paciente prossiga com as suas atividades sociais e domésticas, com humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida. No pior quadro, pode levar ao suicídio – completa o vice-presidente da AMRIGS.

 

Tratamento

 

Atualmente, existem diversos tratamentos eficazes para a depressão, como os medicamentos antidepressivos, que são a maneira mais usual de combate à enfermidade e alguns tipos de psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental, a psicoterapia interpessoal e a de orientação analítica, para casos leves a moderados.

 

No entanto, de acordo com Jair Escobar, menos da metade das pessoas que sofrem da doença usufruem dos tratamentos. Alguns, devido à falta de recursos, de profissionais treinados e do estigma social. Outros, pelo fato de o diagnóstico nem sempre ser preciso sobre o indivíduo ter ou não o transtorno.

 

Uma das soluções é conversar abertamente sobre a patologia, embora, em muitos casos, compartilhar as tristezas acabe afastando as pessoas de quem está com depressão. Flávio Shansis acredita que a psicoeducação (processo que possibilita maior conhecimento sobre a doença) seria um recurso que colaboraria não somente para o tratamento do paciente, como também para a família e amigos terem mais conhecimento sobre o assunto.

 

Curiosidade

 

A depressão é mais comum na adolescência e terceira idade, segundo Escobar. Nos jovens ela se manifesta pelo fato de eles não saberem lidar com as transformações que ocorrem nesta etapa de vida. Já o envelhecimento gera comportamentos depressivos, em muitos casos. Os fatos explicam por que nestas fases de vida a taxa de suicídio é elevada.

 

Como identificar a depressão

 

Cinco ou mais dos sintomas seguintes, presentes por pelo menos duas semanas, representam mudanças no funcionamento prévio do indivíduo. Pelo menos um dos sintomas é: humor deprimido ou perda de interesse ou prazer (não incluir sintoma nitidamente devido a outra condição clínica).

 

1 – Humor deprimido quase todos os dias (sente-se triste, vazio ou sem esperança) por observação subjetiva ou realizada por terceiros. Em crianças e adolescentes pode ser humor irritável;

2 – Acentuada diminuição do prazer ou interesse em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por terceiros);

3 – Perda ou ganho de peso acentuado sem estar em dieta (alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês) e aumento ou diminuição de apetite quase todos os dias. Em crianças, considerar incapacidade de apresentar o ganho de peso esperado;

4 – Insônia ou hipersônia quase todos os dias;

5 – Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outros, não apenas sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento);

6 – Fadiga e perda de energia quase todos os dias;

7 – Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente);

8 – Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros);

9 – Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou tentativa de suicídio, ou plano específico de cometer o suicídio.

 

Fonte: Jornal AMRIGS | Edição 2 2017

 

 

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