A epidemia de zika e a microcefalia

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Nos últimos meses, o Brasil testemunhou um aumento na prevalência de microcefalia em recém-nascidos. Em setembro de 2015, neuropediatras e pediatras de Pernambuco relataram ao Ministério da Saúde a ocorrência de um número acima do esperado de crianças com essa doença e com sinais neurorradiológicos sugestivos de infecção congênita. Na investigação que se seguiu, foi constatado que muitas das mães dessas crianças relatavam ter tido uma doença exantemática durante a gestação. Rapidamente, foi sugerida a possível associação entre a epidemia de zika e a infecção materna por vírus zika (ZIKV) durante a gravidez com a presença das alterações de sistema nervoso central nos bebês.

 

Houve uma mobilização sem precedentes para a abordagem desta grave situação de saúde pública, com o envolvimento das autoridades de saúde e das sociedades médicas, especialistas, pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Em 11 de novembro de 2015, através da Portaria GM n° 1.813, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) por alteração do padrão de ocorrência de microcefalias no Brasil. Em 1° de fevereiro de 2016, a Organização Mundial da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII).

 

Atualmente, a relação entre a infecção por ZIKV e a microcefalia está demonstrada através de numerosas evidências clínicas, epidemiológicas e experimentais. Existe a clara associação temporal entre os surtos de zika e de microcefalia no Nordeste, no Centro-Oeste e no Sudeste. Após o alerta no Brasil, outros países também descreveram casos de microcefalia associados ao zika.

 

Os achados neurorradiológicos da infecção congênita por zika são bastante característicos: o vírus foi isolado nos tecidos de bebês que evoluíram ao óbito intraútero, e os estudos sorológicos evidenciam a presença de anticorpos IgM específicos contra o ZIKV no líquor dos bebês afetados. Além disso, experimentos de laboratório demonstraram a lesão de células nervosas em cultura e a ocorrência de microcefalia na prole de animais de laboratório infectados durante a gravidez.

 

A infecção por zika é transmitida principalmente através do vetor Aedes aegypt, o mesmo que transmite a dengue e a febre amarela. No adulto e na criança maior, é uma infecção relativamente benigna. Por outro lado, o fenótipo apresentado pelos recém-nascidos afetados intraútero é grave, está bem caracterizado e vai além da microcefalia. A embriopatia por zika vírus pode incluir a microcefalia, calcificações intracerebrais, anormalidades oculares, anormalidades articulares e sinais neurológicos de irritabilidade e hipertonia. A gravidade do quadro está relacionada com o período gestacional da infecção materna, sendo mais grave quanto mais precoce for a infecção.

 

Ainda restam muitas questões pendentes a respeito da embriopatia por zika, como o percentual de bebês afetados em mães infectadas, as alternativas terapêuticas para redução do risco de acometimento ernbrio-fetal, a duração da imunidade adquirida pela infecção e os riscos para uma futura gestação. Também pouco se sabe sobre o prognóstico em médio e longo prazo das crianças infectadas nos diferentes períodos da gestação.

 

Deposita-se uma grande esperança no desenvolvimento de uma vacina efetiva contra o zika, mas ainda não há previsão de quando estará disponível. No momento, as formas de prevenção disponíveis são as medidas individuais de proteção contra a picada do mosquito, que incluem o uso de repelentes indicados para o período de gestação e de roupas de manga comprida, além de evitar a viagem para áreas de risco. Além da transmissão, já foi descrita a contaminação através do sêmen. Portanto as medidas de proteção no período periconcepcional devem ser tomadas pelo casal.

 

A medida mais efetiva será a eliminação do vetor que também transmite outras doenças infecciosas. Além das medidas de saúde pública coordenadas pelas autoridades de saúde, é fundamental o envolvimento de todos os cidadãos para eliminação dos mosquitos nas suas residências, locais de trabalho e de lazer.Finalmente, é importante manter esforços em torno da compreensão dos diversos aspectos dessa epidemia, assim como no auxílio das crianças e das famílias atingidas por essa grave situação.

 

Fonte: Revista do Fertilitat

 

 

 

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