Diabetes Gestacional

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Diabetes gestacional

O diagnóstico precoce de diabetes gestacional é fundamental para evitar complicações para a mamãe e o bebê

A gravidez é um período de muitas transformações no corpo da mulher. Entre elas está a intensa produção de hormônios necessários para o desenvolvimento do feto e a manutenção da gestação.

Por essa condição hormonal, e também pelo aumento de peso corporal que ocorre nesse período, a gestante apresenta, naturalmente, maior resistência à ação da insulina nos tecidos. Consequentemente, seu organismo necessita produzir uma quantidade maior de insulina para evitar taxas mais altas de açúcar (glicose) no sangue.

“Quando o pâncreas não consegue produzir uma quantidade suficiente de insulina para suprir essa demanda, a paciente passa a ter um quadro de hiperglicemia, ou seja, um aumento dos níveis de açúcar no sangue”, explica a professora doutora Elaine Moisés, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e presidente da Comissão Nacional Especializada de Hiperglicemia e Gestação da Febrasgo. É em consequência dessa condição de hiperglicemia que ocorre o diabetes gestacional, um distúrbio metabólico que, quando não controlado, tem repercussão na saúde da mãe, do feto e do recém-nascido.

Os cuidados devem começar já no início do pré-natal, com a realização dos exames indicados. “É fundamental fazer esse diagnóstico o mais precocemente possível, para que se permita instituir um tratamento adequado, em momento oportuno”, esclarece a obstetra.

Para a mulher que apresenta diabetes gestacional, pontua a médica, esse é um sinal de alerta para além da gestação. “Ele pode indicar que essa paciente tem um risco de desenvolver, em longo prazo, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica em geral.”

EXAMES DE GLICEMIA

No primeiro trimestre da gestação é solicitado o teste de glicemia, com jejum de pelo menos oito horas. Alguns casos são diagnosticados já nesse momento. Para mulheres com resultados iniciais dentro dos padrões de normalidade, a investigação deve ser repetida entre a 24a e a 28a semana de gestação, utilizando-se preferencialmente o teste oral de tolerância à glicose. A partir daí, o diagnóstico é confirmado ou descartado. “Além do diabetes gestacional propriamente dito, por meio desses exames também é possível estabelecer o diagnóstico de diabetes mellitus primeiramente identificado durante a gestação e iniciar um tratamento adequado, que deverá ser mantido após o parto”, diz a especialista.

Em geral, o diabetes gestacional não apresenta sintomas maternos — por isso a importância dos exames, ressalta a professora da USP. No entanto, as alterações dos níveis glicêmicos podem trazer importantes repercussões para o feto. “Quando não há um controle adequado do níveis glicêmicos maternos, o feto também apresentará hiperglicemiae, consequentemente, estará exposto a risco de complicações como peso acima do esperado para a idade gestacional, produção de líquido amniótico também acima do ideal e, em casos mais graves, alterações de bem-estar”, afirma a presidente da Comissão Nacional Especializada de Hiperglicemia e Gestação da Febrasgo.

FATORES DE RISCO

Segundo Elaine Moisés, gestantes com idade mais avançada, mulheres com antecedente de síndrome metabólica (sobrepeso ou obesidade, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e/ou dislipidemias) e as que tomam algum tipo de medicação que aumenta a glicemia (como corticosteroides) são mais propensas a desenvolver o diabetes gestacional.

Outro grupo de risco são as mulheres com parentes de primeiro grau com diabetes e aquelas que apresentam histórico de desenvolvimento de diabetes gestacional em gravidezes anteriores,  filhos com peso muito elevado no nascimento (mais de 4 quilos), perda fetal ou neonatal.                              

“É importante destacar que o fato de não pertencer a grupos de risco não anula a possibilidade de a mulher desenvolver o diabetes gestacional. Por isso, todas as gestantes devem fazer os testes recomendados”, ressalta a obstetra.                                             

PREVENÇÃO E TRATAMENTO                      

A prevenção do diabetes gestacional vem de hábitos saudáveis. Se a paciente já apresenta fatores de risco, deve tentar reduzir o impacto que eles possam vir a causar na gravidez. O ideal, sugere a médica, é que, nessas condições, ela planeje sua gestação. “Se a mulher apresenta sobrepeso ou obesidade, por exemplo, deve mudar a alimentação e praticar exercícios para perder peso antes da gestação, diminuindo assim os riscos.”      

A boa notícia é que o diabetes gestacional pode ser tratado. “Muitas mulheres conseguem controlar a glicemia apenas com a mudança de hábitos alimentares e uma rotina de exercícios, com orientação especializada e apoio da família”, diz a médica. Mantendo-se sempre o monitoramento do perfil glicêmico durante a gravidez, em algumas situações é preciso associar o uso de insulina à dieta balanceada e à prática regular de atividades físicas.

Quando o bebê nasce e a placenta é eliminada, a resistência à insulina e, consequentemente, os níveis glicêmicos tendem a se normalizar, mas os cuidados com a saúde devem continuar. “Seis semanas após o parto, deve-se repetir o teste diagnóstico”, afirma Moisés. A atenção deve ser mantida em longo prazo: “Essa mulher, idealmente, deve fazer uma avaliação anual de glicemia, ou pelo menos a cada três anos na sua evolução pós-gestação, justamente pelo risco aumentado de desenvolver o diabetes tipo 2 em longo prazo”, destaca a obstetra.

Com prevenção, pré-natal bem-feito, diagnóstico preciso e os cuidados necessários, a gestação tende a seguir seu curso sem que o diabetes traga complicações à saúde da mãe e do bebê.

     

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