Amamentação combina com proteção

613
Aleitamento Materno

Em tempos de COVID-19, o leite materno continua sendo o melhor alimento para o recém-nascido. Promover essa conscientização
é papel de todos nós
.

O que pode querer um bebê que acabou de chegar a este mundo em meio a uma pandemia causada por um vírus novo ainda coberto de mistérios? Certamente, mamar. E o que pode fazer uma mãe pelo presente e pelo futuro desse recém-nascido?

Acertou se você respondeu que ela deve amamentá- -lo exclusivamente com o leite materno até os 6 meses de vida e como complemento até 2 anos ou mais, sem limite definido. Ou seja, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das principais instituições médicas, entre elas a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Federação Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia (Febrasgo), tem sido a mesma das últimas décadas, pois, como explicou a médica obstetra Silvia Regina Piza F. Jorge, professora e chefe do Setor de Gravidez de Baixo Risco da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), “o leite materno é considerado o instrumento mais eficaz e acessível economicamente para combater a mortalidade infantil”.

E estamos precisando mesmo desse alimento de ouro. Na última década, o Brasil teve uma melhora nas taxas de aleitamento materno, porém o país ainda está muito longe de atingir a meta para o ano de 2025, que é ter pelo menos 50% das crianças amamentadas exclusivamente com o leite materno até os 6 meses de vida. “Atualmente, a taxa brasileira nesse quesito gira em torno de 38%. Ela já foi mais baixa, mas ainda não está dentro da meta estabelecida para 2025. Por essa razão, as campanhas de conscientização promovidas pelo Governo, sociedades médicas e diversas instituições são importantes para que a mulher se sinta apoiada e incentivada”, analisou Silvia.

Por isso, investir em ações de conscientização sobre a importância do aleitamento materno para o bebê é atuar na remissão desses dados. “O leite materno é repleto de vantagens para mãe e filho. Ele é capaz de proteger o bebê e fortalecer as defesas do organismo, entre tantos outros benefícios”, destacou a Dra. Silvia, atual presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Aleitamento Materno da Febrasgo.

Mesmo com tantas vantagens claras da amamentação, muitas mães enfrentam desafios diários para ofertar esse alimento nutritivo ao filho. Falta de estímulo ou apoio, falta de conhecimento a respeito da amamentação, medo de sentir dor, vergonha ou embaraço diante de uma possível exposição pública, além de questões sociais, econômicas e de políticas de saúde, são alguns dos motivos que podem dificultar a adesão das mães que amamentam, manter o aleitamento até 6 meses ou mais após o parto.

Uma dessas barreiras infelizmente ainda é bem visível na sociedade brasileira: o preconceito. Parece absurdo que algo tão natural quanto alimentar o próprio filho possa ofender alguém. E chegamos ao ponto de que o direito de amamentar em público, em espaços coletivos ou privados tornou-se lei (Lei Nº 16.396) em nosso País, passível de punição nos casos de constrangimento da mãe que amamenta o filho. Então, que fique bem claro que amamentar não é crime, mas o preconceito é.

O desafio de aumentar a adesão ao aleitamento materno é tão sério que, em 2017, foi instituído no país, por meio da Lei nº 13.435, o Agosto Dourado, mês que simboliza a riqueza do leite materno e abriga diversas iniciativas de conscientização sobre a importância do aleitamento exclusivo nos seis primeiros meses de vida. Além de reportagens na imprensa e de ações locais, neste ano, o movimento ganhou força na internet. Não poderia deixar de ser, afinal a quarentena imposta pela propagação do novo coronavírus fez a maioria das pessoas aderirem às aulas, às reuniões e aos mais diversos tipos de eventos on-line.

Então, por que não realizar um mamaço virtual?

Foi o que fez a SBP no dia 7 de agosto para encerrar a programação da Semana Mundial do Aleitamento Materno 2020. Durante o encontro virtual, transmitido pelas redes sociais, médicos da SBP conversaram com milhares de mães sobre a importância e a dificuldade desse ato de nutrição e amor. Que o aleitamento materno vire o novo normal!

AMAMENTAÇÃO POR LACTANTES COM COVID-19

Tendo em vista o momento ímpar que estamos vivenciando no mundo todo por causa da pandemia de COVID-19, existem muitas dúvidas a respeito do risco de transmissão do vírus SARS-Cov-2 pelo leite materno.

De acordo com a Dra. Silvia, atualmente, com exceção de um estudo publicado na China, que desaconselha o aleitamento materno, as demais sociedades médicas em torno do mundo, entra elas a Febrasgo e a Sociedade Brasileira de Pediatria, aconselham a manutenção do aleitamento materno durante a pandemia, “até porque, não foram encontrados dados consistentes até o momento, do ponto de vista científico, que mostrem que o vírus da Covid-19 possa ser transmitido pelo leite materno”, explicou a presidente da CNE de Aleitamento Materno da Febrasgo.

Nos casos de neonatos que se contaminaram com Covid-19, segundo a médica obstetra, não foi possível afirmar até o momento que o contágio se deu pelo leite, em vez da contaminação pelo próprio ambiente e contato com a mãe portadora – disse Dra. Silvia. “E, se compararmos as inúmeras vantagens do aleitamento materno em relação aos prejuízos de não amamentar, os benefícios são muito maiores, inclusive no que confere mais imunidade e melhor resistência imunológica para a criança que amamenta”, argumentou.

Assim, ela reforçou que, até o momento, a recomendação do Ministério da Saúde, da SBP e da Febrasgo é para que os profissionais de saúde estimulem a manutenção do aleitamento materno se as mães estiverem em boas condições clínicas. Contudo, é importante frisar que a lactante deve ser esclarecida sobre os cuidados que devem ser tomados, como fazer a higiene das mãos e antebraços, cortar as unhas, usar luva e máscara, prender o cabelo, entre outros.

E, se a mãe lactante estiver com Covid-19 e houver insegurança por parte dela na amamentação, o ideal é fazer manualmente a extração do leite, que pode ser ofertado por outra pessoa ao recém-nascido para que não se perca a possibilidade do aleitamento materno.

A Dra. Silvia destacou também a importância dos obstetras e ginecologistas na adequada orientação e sensibilização das mães sobre o aleitamento materno. Esse especialista pode orientar a mulher a respeito do ato de amamentar em diferentes fases da vida, por exemplo, antes mesmo da gestação, no período em que ela está planejando a gravidez, durante o pré-natal, no parto e no pós-parto. “O obstetra tem papel fundamental no esclarecimento, no estímulo, no incentivo e no apoio ao aleitamento materno. Muitas vezes, essas questões podem passar despercebidas durante o acompanhamento do pré-natal, mas é essencial que sejam abordadas”, ressaltou Silvia. S

egundo a presidente da CNE de Aleitamento Materno da Febrasgo, os obstetras e ginecologistas devem dar oportunidade para a futura mamãe falar sobre as dúvidas, medos e experiências que ela tem ou já teve em relação ao aleitamento, além de examinar as mamas da paciente para investigar alguma alteração ou fator de risco que possa dificultar o aleitamento. “Esses cuidados e estímulos precisam ser constantes, a cada consulta, pois nossas gestantes merecem esse acompanhamento acolhedor”, finalizou.

Por Letícia Martins

Fonte: Revista Femina – Agosto 2020

Artigo anteriorOnde há fumaça, há perigo – o cigarro e a saúde da mulher
Próximo artigoCâncer ginecológico: silencioso e grave