Pesquisa CFM/Datafolha

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93% têm percepção negativa da saúde

Para entrevistados, demora no atendimento e erros de gestão comprometem a qualidade da assistência

 

Noventa e três por cento dos brasileiros reprovam a saúde no nosso país. A avaliação integra a segunda edição de pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre o atendimento na área.

 

O sentimento chega a um extremo de descontentamento para 60%, que classificam a situação da saúde no Brasil como péssima ou ruim (atribuindo notas de 0 a 4 em uma escala em que zero significa péssima e dez significa excelente – e na qual sete seria a quantidade mínima de pontos necessários para SUS ser aprovado).

 

Cerca de dois em cada dez brasileiros expressam significativa desesperança: 24% atribuem nota zero para a situação geral da saúde no Brasil e 18% atribuem nota zero para o SUS.

 

No entanto, o sentimento é de expectativa por melhorias: para 43% dos entrevistados a saúde deve ser vista pelo governo como prioridade. Ou seja, os brasileiros ainda esperam por mudanças que aperfeiçoem o atendimento, em especial na rede pública. A educação e o combate à corrupção vem logo após no ranking das preocupações dos brasileiros.

 

Na comparação com a edição anterior, realizada em 2014, a pesquisa evidencia a postura crítica da população sobre a administração e o volume de recursos do SUS, qualidade de atendimento e estrutura, entre outros aspectos. Houve, ainda, este ano, destaque para os problemas de gestão. Para uma parcela significativa dos brasileiros, a percepção ruim sobre os serviços do SUS também decorre da ausência de medidas que assegurem o bom funcionamento da rede pública. As avaliações negativas não se restringem à atividade-fim do SUS, o atendimento. Há críticas mais abrangentes. De acordo com a pesquisa, 77% acreditam que o dinheiro destinado ao SUS é mal administrado, e 74% afirmam que o SUS não consegue atender bem a todos, em igualdade de condições.

 

Para o presidente do CFM, Carlos Vital, essa percepção sobre as finanças do setor está diretamente relacionada à má gestão dos recursos públicos na área.

 

“Levantamentos recentes elaborados pelo CFM têm denunciado a situação do financiamento e da infraestrutura da saúde no país. O último deles revelou que, entre 2003 e agosto deste ano, mais de R$ 171 bilhões do orçamento do Ministério da Saúde deixaram de ser efetivamente gastos. Sem estes recursos, os brasileiros certamente serão ainda mais prejudicados”, disse Vital.

 

Cirurgia é o serviço do SUS com maior dificuldade de acesso, afirma população

 

Oitenta e três por cento dos entrevistados buscou acesso e utilizou o SUS nos últimos dois anos. O atendimento nos postos de saúde e consultas médicas foram os serviços mais procurados (por 75% dos entrevistados) e os mais utilizados pela população. Mas o acesso a cirurgias, consultas com médicos e outros profissionais, como nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, é considerado difícil ou muito difícil. Observe no quadro ao lado que a maioria dos entrevistados apontaram as cirurgias como o serviço com maior grau de di culdade de acesso dentro do SUS. Essa foi a opinião de 63% dos entrevistados. Na sequência, aparecem consultas com médicos (59%) e consultas com outros profissionais da saúde (54%).

 

25% aguardam há mais de um ano

Este é o tempo de espera relatado por uma parcela significativa dos que esperam por atendimento no SUS

 

O tempo de espera aparece como fator determinante para a percepção dos usuários sobre o SUS. A pesquisa encomendada pelo CFM sobre a percepção do brasileiro a respeito da saúde no Brasil mostra que a agilidade no atendimento é um aspecto que impacta fortemente na satisfação da população.

 

Os respondentes que foram mais críticos em relação ao SUS foram questionados sobre os principais problemas. O tempo de espera foi o ponto mais negativo para 36% deles, seguido da falta de médicos (19%) e da falta de estrutura (15%).

 

A pesquisa do CFM mostrou ainda que cerca de três em cada dez brasileiros (ou alguém em seu domicílio) aguardam para ser atendidos no SUS, principalmente para consultas médicas, exames e cirurgias.

 

Em relação a 2014, houve aumento no tempo de espera para marcar ou ser atendido. Entre os entrevistados, 29% aguardam marcação ou realização de consulta, exame, procedimento ou cirurgia. O percentual dos que aguardam há mais de seis meses por tais serviços aumentou de 29%, em 2014, para 41%, em 2015.

 

Quando o tema pesquisado foi a avaliação geral dos serviços do SUS, 25% de seus usuários mostraram-se extremamente insatisfeitos, atribuindo notas de zero a quatro (péssimo ou ruim) para a qualidade.

 

Esses dados demonstram grau de descontentamento com a rede pública e indicam a necessidade da gestão investir na melhora dos serviços.

 

Quase 1/3 acha prontos-socorros péssimos

 

Os serviços mais mal avaliados pelos entrevistados foram o atendimento de emergência em pronto-socorro (28% o consideram péssimo ou ruim) e o atendimento nos postos de saúde (24% estão extremamente insatisfeitos). Um em cada cinco entrevistados também atribuiu notas inferiores a quatro para exames de laboratório, internações hospitalares, cirurgias e consultas com médicos.

 

Para maioria, médicos precisam de estrutura

 

A pesquisa CFM/Datafolha mostrou que a percepção da população coincide com a visão do CFM, que defende de maneira reiterada – junto da mídia, da sociedade, do Congresso e em instâncias nas quais tem representatividade – mudanças estruturais no sistema de saúde brasileiro, uma política e caz de presença do Estado, de atração e de valorização dos profissionais de saúde. O estudo mostrou que é elevada a concordância com a ideia de que os médicos precisam de estrutura para trabalhar (93%) e que merecem ser valorizados, com salário e estímulos de carreira (86%). 

 

2.069 foram entrevistados

 

Foram ouvidas 2.069 pessoas – 59% delas residentes no interior – entre os dias 10 a 12 de agosto. A presença de homens e mulheres é equivalente na amostra (48% dos entrevistados são do sexo masculino, e 52%, do sexo feminino). Entrevistados com idade superior a 16 anos responderam a um questionário estruturado que, entre outros pontos, avaliou a Saúde no Brasil, recursos e gestão, áreas que devem ser prioritárias para o governo, acesso e utilização do SUS e avaliação da qualidade dos seus serviços. Algumas questões também se detiveram sobre o tempo de espera para diferentes procedimentos e outros aspectos. A média de idade foi de 39 anos. A escolaridade predominante dos entrevistados foi o ensino médio (44%), seguido pelo ensino fundamental (37%) e superior (19%). A renda familiar mensal predominante foi de até dois salários mínimos (R$ 1.576,00), para 49% dos entrevistados.

 

Fonte: Revista Medicina | CFM | out 2015

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