Na gravidez, é fundamental seguir uma dieta balanceada e nutritiva para que o bebê tenha um desenvolvimento adequado. Além disso, essa prática contribui para o organismo da mãe, que viverá uma série de transformações no decorrer dos nove meses e após o nascimento, com uma rotina intensiva de cuidados ao pequeno ou à pequena.
Simone Gladys Getz, nutricionista formada pela Universidade de São Paulo, com especialização em saúde da mulher no climatério, nutrição clínica e ortomolecular, e fitoterapia, com experiência no atendimento a gestantes, relata à Revista SOGESP dicas importantes na hora de escolher o melhor cardápio para a gestação.
Em mulheres de peso normal, recomendam-se uma dieta entre 2000-2200 Kcal. Nas obesas e com sobrepeso, como calcular?
Do ponto de vista teórico, recomenda-se 25 calorias por quilo de peso nos quadros de obesidade, e 30 calorias nas situações de sobrepeso. No entanto, 6 que realmente funciona na prática é a melhora do padrão alimentar da gestante. Na anamnese nutricional se busca conhecer em detalhes a rotina alimentar da mulher, suas preferências, intolerâncias, como organiza as refeições em casa e no trabalho. A partir daí, podemos propor condutas que venham a reduzir o consumo calórico total e que possam ser integradas ao seu dia a dia. O objetivo maior é atuar sobre os comportamentos alimentares em busca de escolhas mais saudáveis. Vale ressaltar que na gestação as mulheres estão bastante abertas a mudanças e melhorias. O acompanhamento nutricional trimestral, ou às vezes até mensal em quadros de obesidade, é muito importante e efetivo no controle de ganho de peso.
Chás laxativos podem ser usados?
Chás laxativos, como sene e cáscara sagrada, contêm substâncias chamadas antraquinonas, que estimulam a peristalse intestinal. Não devem ser usados pelas gestantes, pois aumentam as contrações uterinas, podendo levar ao aborto. A conduta mais acertada é aumentar a ingestão de água e alimentos laxativos – saladas cruas, legumes, frutas mais ricas em fibras, carboidratos integrais e farelos. Muitas vezes, o uso de uma colher de sopa de azeite, creme de oleaginosas e óleo de gergelim auxilia o quadro. Recomendo o uso de probióticos para recuperar a flora e favorecer o funcionamento intestinal, o que beneficiará a absorção de nutrientes fundamentais nesse período, ern que há demandas maiores de vitaminas e minerais.
Nas dietas vegetarianas, veganas, ovolactovegetarianas, entre outras, quais nutrientes e oligoelementos faltam?
O vegetariano, de forma geral, exclui todas as carnes da sua alimentação. Há os ovolactovegetarianos, que consomem ovos e leite, e os veganos, que retiram esses itens. Quanto aos ovolactovegetarianos, está garantido o aporte de vitamina B12 e cálcio por meio dos ovos e laticínios, mas é preciso atenção ao aporte de ferro. Quanto aos veganos, deve-se cuidar da ingesta dos três nutrientes, sobretudo a vitamina B12, cuja principal fonte está nas proteínas animais.
O vegetariano precisa manter uma alimentação equilibrada, rica em feijões, proteínas vegetais, carboidratos integrais, verduras e legumes, garantindo o consumo dos nutrientes citados. Os exames séricos periódicos, aliados a uma boa anamnese alimentar, auxiliam a prescrição de uma suplementação vitamínico-mineral individualizada e completa.
Sushi e sashimi, peixes crus em geral, e até mesmo quibe cru, entram na restrição?
Quando a gestante apresenta sorologia negativa para toxoplasmose, recomenda-se evitar o consumo de quibe cru, carne mal passada e saladas cruas fora de casa, pois não há certeza se foram adequadamente higienizadas.
Com relação aos sushis e sashimis, vale lembrar que são produtos muito perecíveis, e quando deteriorados podem levar a problemas gastrointestinais, desidratação e uso de medicamentos.
No caso dos alimentos processados, que normalmente têm sódio em excesso, quais são proibidos? E os embutidos?
Na alimentação, o equilíbrio e a moderação são palavras-chave. ão há proibição, há o bom senso. Quanto maior o consumo de alimentos frescos e menos processados, melhor. O estado nutricional da mulher e sua alimentação são fundamentais ao adequado desenvolvimento e crescimento do bebê. Para ter uma gestação e parto tranquilos, é realmente essencial fazer escolhas alimentares mais saudáveis.
Algumas condutas para reduzir produtos ricos em sódio: como temperos, preferir ingredientes naturais-limão, azeite, ervas, especiarias,cebola e alho, evitando temperos industrializados e o sal em excesso. Organizar-se para ter comida caseira, evitando os pratos prontos congelados, frequentes no jantar. Substituir os vegetais, como milho, ervilha e seletas em lata por versões congeladas. Quanto aos embutidos para sanduíches, além de sódio, contêm nitratos e outros aditivos químicos. Os recheios de frango ou atum, com baixo sódio, são opções melhores.
Se a gestante for hipertensa ou desenvolver o Distúrbio Hipertensivo Específico da Gravidez, o controle de sódio precisa ser mais rígido.
Quais os adoçantes permitidos na gestação?
No primeiro trimestre não é recomendável o uso de adoçante, exceto no diabetes.No segundo e terceiro trimestres,é permitido o uso da stevia ou a sucralose, com moderação. O ideal é tentar reduzir o dulçor dos alimentos de forma geral.
E as bebidas, como os refrigerantes, o que é melhor evitar?
Os refrigerantes são chamados de “calorias vazias”. São bebidas com alta densidade calórica e isentas de nutrientes. O consumo regular e excessivo é contraindicado.As bebidas do tipo cola possuem fosfato e cafeína, ambos podem prejudicar a absorção do cálcio.A cafeína, presente em outras bebidas, exige atenção no primeiro trimestre – pesquisas indicam associação com maior chance de perda fetal. Vale lembrar que os refrigerantes em geral contêm uma boa lista de aditivos químicos como ingredientes, o que certamente não é saudável a ninguém.
Atualmente, observamos o alto consumo de sucos ao longo do dia, na hora da sede. São bebidas muito ricas em carboidratos, portanto, não devem ser consumidas com essa regularidade. Aqui vale a regra da moderação, do consumo eventual. Sem dúvida, o melhor líquido para hidratação é a água.
O que diz sobre cerveja sem álcool? À vontade?
Uma porção é adequada. De preferência, que seja eventual e acompanhada de outros alimentos.
Vale a pena seguir uma dieta com a exclusão de glúten e lactose na gestação? Existe algum malefício?
Por decisão própria, não. Deve-se iniciar uma dieta de exclusão somente se for diagnosticada pelo médico uma doença celíaca – glúten – ou alguma sensibilidade importante ao glúten e à lactose. Para mulheres que apresentam..muita flatulência e sensação de empachamento após a refeição, a exclusão ou a redução da lactose – até mesmo do glúten – pode melhorar os sintomas, mas antes disso há de se avaliar outros desequilíbrios frequentes: excesso de carboidrato refinado, disbiose intestinal, mastigação inadequada e grande volume de alimentos nas refeições. Na gestação, visamos sempre ao equilíbrio e à presença de todos os grupos alimentares.
No que se refere às fontes de cálcio, como balancear, entre as ingestões de leite, de derivados e a má digestão? Isso afeta a absorção?
Quanto ao cálcio não basta pensar somente em quantidade ingerida, é preciso considerar a sua biodisponibilidade. O uso frequente de antiácidos para tratar a “má digestão” ou a dispepsia pode afetar a absorção do cálcio em nível intestinal, pois esse processo requer pH mais ácido. Lembro ainda a importância de níveis adequados de vitamina D para garantir o transporte intestinal do cálcio e do magnésio, que atuam na fixação do mineral nos ossos e dentes. Há outras fontes de cálcio, além de leite e derivados: tofu, brócolis, couve, sardinha e semente de gergelim.
Quanto às queixas de má digestão, e ai incluo o refluxo, muitas alterações orgânicas e fisiológicas são inerentes à gestação. Na prática, observo que isso está muito relacionado à rotina de horários das refeições, com o volume e a alta presença de líquidos, inclusive bebidas gaseificadas, entre outros comportamentos inadequados. Ao corrigir esses pontos, há uma grande melhora nos sintomas.
Fonte: Revista Sogesp