Mães padecem. Mas mães habitam o paraíso.
Esta é a dicotomia mais verdadeira da humanidade. Quer exemplos?
Bracinhos roliços que te abraçam com carinho genuíno. Noite após noite sem dormir mais de duas horas seguidas.
O prazer de conviver com uma pessoinha em formação, de ver o aprendizado, o despertar para o mundo. A tortura de presenciar as quedas, os ferimentos, as dores, as doenças típicas de criança.
O orgulho pelo filho que tira boas notas na escola, que se destaca nos esportes, que demonstra um talento especial para as artes. A aflição de esperar que ele volte pra casa de madrugada, são, salvo e feliz.
Ver o filho feliz é a suprema felicidade para uma mãe. Mas um semblante amuado, uma carinha de tristeza, frustração ou medo pode deixar uma mãe arrasada. De verdade.
Ser mãe é viver, ao mesmo tempo, a sensação de impotência total versus um sentimento de poder absoluto. Mães se sentem poderosas, sim. A maternidade traz consigo uma sensação de poder, de estar empreendendo algo deveras importante. Mas até mesmo uma supermãe fica impotente diante do sofrimento do filho, de suas dificuldades, desencantos.
A maternidade é a alegria que nunca cessa. E a preocupação que nunca termina.
“Filho, leva um casaquinho, pode ser que esfrie!” Frase típica de mãe, aquela que nunca relaxa, nunca desliga…
E a culpa? Dizem que, ao sair do hospital após o parto, a mãe leva para casa um bebê e um saquinho de culpa. Os dois crescem na mesma medida. Aff…
A palavra amor tem um significado muito diferente quando se refere a mãe e filho. “Amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete, AMOR!”
Simples assim. E tão complicado!
Eu fui conhecer isso tudo, de verdade, só aos 40 anos. Foi quando nasceu a Gabriela, minha guriazinha tão desejada. Antes da Gabi eu sabia dessas verdades, mas não as CONHECIA.
A Gabi me fez conhecer o maior amor e as maiores dores. Ela saiu da minha barriga … e a vida nunca mais foi a mesma. Ainda bem!
É provável que a maturidade dos 40 tenha me ajudado a enfrentar de forma mais positiva as perdas que a maternidade inevitavelmente traz: menos liberdade, mais cansaço, menos tempo pra cuidar de mim, pra namorar, para o ócio, as futilidades, o relax.
E com certeza essa mesma maturidade me ajudou a valorizar muito mais os enormes ganhos. Não consigo nem lembrar como eu vivia sem filhos, sem uma pequeninha me chamando pela casa: “mãe, mamãe, mamanhê!”
Aos 44 anos me pós-graduei na função de mãe, com a chegada da Isadora, minha segunda filha. E, como dizem algumas mães experientes, um mais um é igual a onze!
Faz um ano e meio que divido o colo, o tempo, a energia, a atenção e os cuidados entre essas duas guriazinhas. Só o coração é que não precisa ser dividido. Incrivelmente, ele tem espaço de sobra para as duas, e as duas bem juntinhas.
Fonte: Milene Leal/Revista FERTILITAT