Obesidade e Orientações Nutricionais

587

Obesidade – Aspectos Epidemiológicos e Fatores de Risco Associados

 

Por: Prof. Dr. Ruy Lyra

Presidente da Federação Latino-Americana de Endocrinologia 

Coordenador de Pesquisas Clínicas do Instituto de Endocrinologia do Recife

 

INTRODUÇÃO

 

A obesidade, que em geral se refere ao excesso de gordura corporal, tornou-se um importante problema de saúde pública. A sua prevalência continua a aumentar em todo o mundo. Com o incremento da prevalência da obesidade, também aumenta o aparecimento das comorbidades associadas a essa condição. A obesidade per se, bem como os fatores de risco relacionados a ela, vem se tornando cada vez mais um problema significativo não só em países desenvolvidos, mas também nos países em desenvolvimento. Para a detecção da obesidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou como ferramenta o índice de massa corporal (lMC), que é calculada dividindo-se o peso corporal em quilogramas (kg) pelo quadrado da altura em metros (m). A obesidade é definida quando o IMC for igual ou superior a 30 kg/m2 , sendo definido peso normal quando a IMC se situa entre 20 e 25 kg/m2 e sobrepeso o intervalo entre 25 e 29,9 kg/m2. No entanto, não só a questão de gordura total do corpo, mas também o padrão de distribuição apresentam importância. O excesso de gordura visceral que caracteriza a obesidade central tem uma forte associação com a doença cardiovascular (DCV).

 

OBESIDADE NO BRASIL

 

No Brasil, a prevalência de sobrepeso e obesidade é fator de grande preocupação, já que mais de 50% da população adulta apresenta sobrepeso ou obesidade. Por outro lado, levantamento mais recente do Ministério da Saúde revela que pela primeira vez em oito anos consecutivos o percentual de excesso de peso e de obesidade se manteve estável no país. A pesquisa Vigitel 2013 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) indica que 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal e que, destes, 17,5% são obesos. A proporção de obesos entre homens e mulheres é a mesma: 17,5%. No entanto, em relação ao excesso de peso, os homens acumulam percentuais mais expressivos, 54,7% contra 47,4% das mulheres. O estudo também mostrou a existência de diversos hábitos alimentares inapropriados da população. Um deles é o índice que mostra a porcentagem de brasileiros que tem o hábito de substituir o almoço ou o jantar por um lanche de baixo valor nutritivo. Avaliado pela primeira vez no Vigitel, o indicador mostrou que 16,5% dos brasileiros (12,6% dos homens e 19,7% das mulheres costumam trocar o almoço ou jantar por lanches como pizzas, sanduíches ou salgados, diariamente. Outro indicador que preocupa é o consumo excessivo de gordura saturada: 31% da população não dispensa a carne gordurosa e mais da metade (53,5%) consome leite integral regularmente. Esse cenário impõe a necessidade de modificações comportamentais na população brasileira.

 

EVIDÊNCIAS ATUAIS QUE LlGAM A OBESIDADE A MORTALIDADE PRECOCE

 

Diversos grandes estudos demonstraram aumento da mortalidade a partir de certo limiar de IMC. Por exemplo, no Framingham Heart Study, um importante ensaio prospectivo de coorte, evidenciou que homens e mulheres adultos obesos não fumantes viveram 5,8 e 7,1 anos menos do que os não obesos, respectivamente. Além do IMC a distribuição da gordura corporal pode ser mecanismo de definição de risco para mortalidade. O estudo INTERHEART, entre outros, mostrou que a maior concentração de gordura no quadril teve efeito preditivo negativo para o infarto agudo do miocárdio (IAM) enquanto a maior concentração de gordura abdominal foi associada com altas taxas de IAM.

 

MORBIDADES RElACIONADAS À OBESIDADE

 

Tolerância diminuída à glicose e diabetes mellitus 

 

Atualmente, não há controvérsia de que a obesidade está associada com tolerância diminuída à glicose ou diabetes mellitus tipo 2 (DM2). O mecanismo de ligação entre essas duas situações é provavelmente devido a resistência a insulina. A associação da obesidade com diabetes tem sido demonstrada em vários estudos. Em um dos maiores estudos de coorte, em que 84.941 enfermeiras foram acompanhadas por 16 anos, houve 3.300 novos casos de DM2. Esse estudo revelou que o excesso de peso ou obesidade foram os principais preditores de DM2. Estudos envolvendo homens encontraram associação semelhante. 

 

Hipertensão arterial 

 

Diversos estudos evidenciam uma forte associação entre obesidade e hipertensão arterial (HA). Um grande estudo de coorte envolvendo 82.473 participantes verificou que O IMC foi positivamente associado com a hipertensão. No estudo Framingham, o risco relativo para HA em homens e mulheres com excesso de peso foi de 1,46 e 1,75, respectivamente, após o ajuste para a idade. No mesmo estudo, a redução de peso em mulheres obesas aos 18 anos reduziu o risco de hipertensão.

 

Doença cardíaca 

 

Há evidências inequívocas de que há aumento do risco para doença arterial coronariana (DAC) quando a obesidade está presente. O aumento do risco de DAC foi encontrado nos estudos Framingham e Nurses. No tocante a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), o estudo Framingham demonstrou que o risco foi duas vezes maior no grupo de obesos, quando comparado a não obesos.

 

Dislipidemia 

 

A dislipidemia, que se manifesta pela redução da lipoproteína de alta densidade (HDL) e aumento de triglicérides, é associada com a obesidade. O mecanismo para essa relação é em grande parte devido a resistência à insulina. Na obesidade, resistência à insulina está associada com o aumento da síntese hepática de VLDL e deterioração da lipase lipoproteica.

 

Doença cerebrovascular 

 

Atualmente evidências sinalizam que os riscos de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) e hemorrágico (AVCh), em relação à obesidade, são maiores em homens. Nas mulheres, essa relação é verdadeira apenas para o AVCi. Estudo prospectivo com 39.053 participantes do sexo feminino, seguidas por um período médio de dez anos, demonstrou a ocorrência de 432 acidentes vasculares cerebrais. Desses, 307 eram isquêmicos, 81 hemorrágicos e 4 indefinidos. Em indivíduos obesos (lMC> 30 kg/m2), as taxas de risco (IC de 95%) para acidente vascular cerebral total, isquêmico e hemorrágico foram de 1,5 (1,16-1,94), 1,72 (1,30-2,28) e 0,82 (0,43-1,58), respectivamente.

 

CONCLUSÃO

 

O sobrepeso e a obesidade são condições cada vez mais prevalentes em todo o mundo. No Brasil, mais de 50% da população adulta se encontra acima do peso. Essas condições aumentam sobremaneira o risco de uma série de comorbidades, que, por sua vez, reduzem significativamente a expectativa de vida. Medidas são necessárias para a mudança desse panorama sombrio.

 

Orientações nutricionais

 

Por: Professora Rosana Perim Costa 

Especialista em Nutrição em Cardiologia – SOCESP 

Mestre em Ciências da Saúde – UNIFESP 

Gerente de Nutrição – HCor

 

Algumas mudanças no estilo de vida, como manter uma alimentação equilibrada e praticar atividade física regular, podem ajudar no equilíbrio do peso e na prevenção do sobrepeso e da obesidade. Sempre que houver uma ingestão calórica de alimentos maior que o gasto energético, haverá maior armazenamento de energia na forma de gordura.

 

A quantidade ideal de calorias que um indivíduo necessita depende de alguns fatores, como idade, sexo e atividade física.

 

A redução de peso é atingida a partir da orientação de uma dieta hipocalórica, com quantidades adequadas dos principais nutrientes (proteínas, minerais e vitaminas), baixa ingestão de gorduras e carboidratos (açucares, doces, chocolates, massas, pães, batatas e refrigerantes) e maior consumo de fibras.

 

Vamos aprender a montar um prato saudável de forma simples e rapida:

 

 

Como você pode perceber, 50% de um prato saudável deve conter verduras cruas ou cozidas (alface, rúcula, almeirão, agrião, brócolos, espinafre, por exemplo) e legumes (cenoura, beterraba, chuchu, abóbrinha, abóbora, por exemplo). Esses alimentos são ricos em fibras e vitaminas e contêm poucas calorias. 

 

As proteínas representam 25% do prato, incluindo as carnes vermelhas magras, aves sem pele, peixes e ovos. Devem ser consumidas, de preferência, grelhadas, assadas ou ensopadas.

 

As leguminosas, representadas por feijão, lentilha, ervilha, grão-de-bico e soja, também devem ser incluídas na alimentação diária, dividindo espaço no prato com as proteínas de origem animal. 

 

Os carboidratos são fundamentais para fornecer a energia necessária para nosso carpo desenvolver as atividades diárias. O arroz, as batatas e as massas são bons representantes e, se forem integrais, melhor ainda! Apenas lembre-se de não exagerar, 1/4 do prato é o suficiente.

 

Lembre-se que a alimentação deve ser equilibrada, completa e variada, evitando carências vitamínicas ou de outros nutrientes que conduzam a desnutrição ou ao aparecimento de algumas doenças.

 

Conselhos importantes:

 

– Observe o seu comportamento alimentar e analise o que, quanto e por que come. A partir daí elabore estratégias para melhorar seus hábitos alimentares, escolhendo metas acessíveis.

– Evite o jejum por mais de 4 horas. 

– Procure realizar 5 refeições ao longo do dia: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da

tarde e jantar. 

– Ao iniciar as refeições principais prefira as saladas, pois propiciam maior saciedade, além de

fornecerem vitaminas, minerais e fibras. 

– Escolha somente uma fonte de carboidrato em suas refeições, preferindo as versões integrais de

pães, arroz, massas, cereais matinais e aveia. 

– Evite frituras e alimentos empanados. 

-Inclua verduras, legumes e frutas em todas as refeições. 

– Os alimentos diet/light não são isentos de calorias, portanto não devem ser consumidos

livremente. 

– Procure não tomar muito líquido durante as refeições. Lembre-se que é recomendado ingerir

pelo menos 2 litros de líquidos ao longo do dia. 

– Modere o consumo de bebidas alcoólicas. 

– Coma devagar e mastigue bem os alimentos 

– Se estiver satisfeito, não se sinta obrigado a comer tudo o que está no prato. Respeite as

mensagens do seu organismo. 

– Seja persistente, pois toda mudança de hábito exige esforço, mas lembre-se de manter sempre o

foco no resultado que você deseja, não desista.

 

Artigo anteriorQuer envelhecer com saúde? Não fume na juventude!
Próximo artigoParto Hospitalar – O mito do parto humanizado