Determinação da ANS, que tem por objetivo estimular o parto normal e reduzir o número de cesáreas nos planos de saúde, interfere na relação médico-paciente
Em julho, começaram a valer as novas regras para partos feitos na rede particular. Os planos de saúde devem informar cesarianas e partos normais feitos por médicos e hospitais. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) quer evitar cesáreas desnecessárias e estimular o parto normal na rede privada. A ANS acredita que, com esses números em mãos, as grávidas poderão escolher melhor o médico que vai acompanhar a gestação e o hospital onde desejam ter o bebê.
A resolução da agência também orienta os médicos a usarem o partograma, um documento onde fica registrado tudo o que acontece no parto, que passa a ser fundamental para a operadora remunerar o médico pelo procedimento.
O presidente do SIMERS, Paulo de Argollo Mendes, participou do programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, que abordou a nova regra.
Questionado sobre a posição da entidade, o dirigente contextualizou o cenário: se o Brasil é recordista em cesarianas, o mesmo ocorre em relação às cirurgias plásticas, mas neste tipo de procedimento a ANS não interfere.
– É muito oportuno para o governo, em um momento de debate sobre questões econômicas e políticas, dizer que o problema não é a corrupção, e sim as cesáreas. A mulher também tem direito de optar pela cesárea, e o médico, de opinar sobre o que é melhor para a paciente e seu bebê – disse.
O presidente do SIMERS enfatizou que não é tarefa do governo intervir na relação médico-paciente e determinar quantas cesáreas podem ser feitas.
– Não é assim que medicina funciona, não é um cálculo matemático. A mulher brasileira tem um vínculo muito forte com seu médico. Ela estabelece uma relação de confiança e quer que seu parto seja feito com esse profissional, e por isso opta por combinar. Tratase de uma questão cultural que até pode ser discutida. Mas, de toda forma, essa é uma decisão que só a mulher pode tomar – completou.
Apresentado pelos jornalistas Juremir Machado e Gabriel Jacobsen, o programa reuniu também o diretor técnico da Doctor Clin, Felipe Crusius; o coordenador das Câmaras Técnicas do CREMERS, Jefferson Piva; a representante da Rede Parto do Princípio, Lara Werner, e, por telefone, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS).
Parto normal após a cesariana?
Outro ponto de discordância entre a categoria médica e o Ministério da Saúde é a recomendação ou não de parto normal para mulheres que já fizeram uma cesariana. De acordo com a Associação Médica Brasileira (AMB), evidências científicas apontam na direção de riscos de rompimento uterino durante o parto normal em mulheres que já passaram por cesariana.
– Se acontece uma ruptura uterina, a paciente corre sérios riscos. Um caso tratável eletivamente com uma cesárea pode acabar se transformando em uma emergência – argumenta o diretor da entidade José Bonamigo.
Fonte: VOX Medica | Novembro 2015