“Meu filho tem dez anos e começou a se queixar de problemas na visão. Ele passa muitas horas jogando no computador. Será que isso tem relação? Como também trabalho muitas horas em frente ao computador, gostaria de saber se o brilho da tela tem influência ou não.”
Maria Luiza, Porto Alegre
A questão levantada pela leitora tem tido grande repercussão na mídia, pois não é um fato isolado. Milhares de pessoas de todas as idades, em todo o mundo, ficam em frente a telas de celular, tablets ou computadores por longas horas, todos os dias. Para sabermos mais sobre as consequências à saúde dos olhos em virtude deste hábito típico da vida contemporânea, a Revista Saúde buscou a opinião do professor e doutor João Borges Fortes Filho, oftalmologista, para a Coluna Quero Saber Especial:
O mundo moderno nos trouxe muita tecnologia, que nos proporcionou maior conforto, maior rapidez, facilitou muito a comunicação entre as pessoas. Mas, ao mesmo tempo, essa tecnologia toda, quando utilizada em excesso, afeta em muito os nossos olhos.
O problema real é a necessidade de proteger as crianças desse uso intensivo de tecnologia. Uma criança com 2 ou 3 anos de idade já é habituada a usar celulares e tablets, fica várias horas por dia brincando com os joguinhos. Ela vai passar o resto da vida lidando com essa tecnologia. Aos 40 anos de idade, estará com seus olhos acabados, desenvolverá cataratas precoces e, depois, terá degeneração macular aos 50 anos e viverá até quase 100 anos de idade enxergando muito pouco. Isso precisa ser alertado à nossa população. A única proteção é diminuir o número de horas de exposição diária às radiações. Não há outra forma.
Tudo começa pela emissão de raios UVA, UVB e UVC, além de ondas eletromagnéticas curtas, médias e longas. Depois, somos cercados de ondas de rádio, de radar, de micro-ondas e de tantas siglas que hoje em dia já nem sequer sabemos diferenciar. O olho humano é diretamente afetado por essas radiações que causam formação de cataratas precocemente na vida e, depois, causam degeneração macular.
Até duas décadas atrás, catarata era “doença de velho. Hoje em dia, e cada vez mais, estamos operando cataratas em pacientes com 50 ou mesmo com 40 anos de idade e que irão morrer lá pelos 90 ou 100 anos de idade. Vejam por quantas décadas depois de operados os pacientes irão ficar expostos às radiações ambientais. As pessoas viverão muitas décadas, e o olho humano não está se mostrando eficiente neste processo de envelhecimento. A catarata é a opacificação do cristalino, a lente natural do olho humano. As radiações afetam o cristalino fazendo com que o mesmo se torne opaco muito mais precocemente, necessitando ser removido por cirurgia.
Outro problema grave, sobre o qual circula muita informação na internet, é a chamada “epidemia mundial de miopia”. A população em todo o mundo está se tornando míope por usar quase que exclusivamente a capacidade de visão para objetos próximos (tela de celular a uns 30 cm do rosto). A expectativa da Organização Mundial de Saúde é que, em 2050, metade da população mundial será míope. A única possibilidade real de reverter este quadro é minimizarmos o número de horas diárias frente aos aparelhos, especialmente no que se refere às crianças, que ainda estão com o seu olho em processo de formação e de desenvolvimento.
Prof. Dr. João Borges Fortes Filho, oftalmologista
Fonte: Revista HED