O SEGREDO É MANTER O CORPO E A MENTE ATIVOS

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Entrevista IVAN IZQUIERDO

 

IVAN IZQUIERDOQuando o assunto é memória, ou a falta dela, não existe “pauta batida“. Sempre temos dúvidas, medos e inseguranças acerca de um tema sobre o qual muito se descobriu, mas, ao mesmo tempo, ainda pouco se sabe. Conhecedor profundo da matéria, visto que dedica sua vida à pesquisa dos mistérios da mente, Ivan Antonio Izquierdo, de 76 anos, médico e neurocientista argentino, naturalizado brasileiro, conversou com a Pensar. Dono de objetividade e franqueza invejáveis, falou sem rodeios, deu respostas diretas e admitiu, ele mesmo, seu medo de perder a memória. Doutor em Farmacologia desde 1962 pela Universidade de Buenos Aires, atualmente é professor titular de Medicina, coordenador do Centro de Memória e coordenador científico do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Membro de 21 sociedades científicas no Brasil e no Exterior, recebeu mais de 60 prêmios e distinções nacionais e internacionais. Izquierdo descobriu os principais mecanismos moleculares da formação, evocação, manutenção e extinção das memórias e a separação funcional entre as memórias de curta e longa duração.

 

Pensar – Qual é o trabalho do Instituto do Cérebro e do Centro de Memória?

 

Izquierdo – No momento, o Instituto do Cérebro tem uma função assistencial. O Centro de Memória, que administrativamente é parte do Instituto, estuda os mecanismos da formação, armazenamento, extinção e interação das memórias.

 

Pensar – A propósito de sua formação, o que é Neurofarmacologia e qual sua relação com os estudos da memória?

 

Izquierdo – Neurofarmacologia é a ciência que estuda o efeito de drogas sobre os sistemas nervosos. Atenção para o fato de que aqui a palavra “droga” é usada para designar qualquer substância com efeitos biológicos. Para estudar os mecanismos biológicos da memória ou qualquer outro processo biológico, usam-se drogas. Elas agem sobre as moléculas das células. E, estudando sua ação, podemos entender melhor essas moléculas, uma vez que a memória obedece a mecanismos moleculares nas sinapses.

 

Pensar – Quais são os problemas mais comuns relacionados à memória ou à perda dela? 

 

Izquierdo – O problema mais comum da memória é a sua perda parcial ou total. Em humanos, as causas mais comuns são a depressão, o estresse e a ansiedade. Além das demências (de “de”, partícula privativa, e “mens”, mente, em grego), sendo a mais comum a doença de Alzheimer.

 

Pensar – Uma vez desenvolvido ou adquirido um problema, há como reverter o quadro?

 

Izquierdo – Os casos de depressão, estresse e ansiedade são reversíveis, mediante o correto tratamento desses problemas. As perdas decorrentes das demências podem ser reduzidas por drogas, mas as doenças degenerativas ainda não são reversíveis.

 

Pensar – Esquecemos mais facilmente das coisas conforme ficamos mais velhos. Mito ou verdade?

 

Izquierdo – É verdade, mas isso na velhice muito avançada, entre os 90 e 95 anos, é que isso tende a ocorrer. Se não há uma doença que justifique isso, não há porque nos esquecermos.

 

Pensar – Como o senhor vê os avanços da ciência em relação aos estudos do cérebro e, especificamente, ao estudo da memória?

 

Izquierdo – Os avanços da ciência são enormes nos últimos 15, 20 anos, na tecnologia de imagens, nas microdosagens de praticamente todas as moléculas de interesse biológico, na microfarmacologia, na velocidade com que fluem as informações.

 

Pensar – Todo mundo envelhece igual?

 

Izquierdo – Não. A qualidade (ou a falta dela) do envelhecimento começa, na verdade, já na infância e depende de muitos fatores, como a prática e o uso do cérebro, especialmente por meio da leitura. Além disso, é preciso manter o corpo e a mente ativos e, não é nem preciso dizer, manter uma dieta saudável. O Alzheimer, no entanto, não há como prevenir. Só rezar.

 

Pensar – Quando o senhor diz que o Alzheimer não dá para prevenir, significa que ele é genético ou que é uma espécie de loteria alguém sofrer do problema?

 

Izquierdo – Alzheimer é uma doença dos genes, o que não quer dizer que ela seja pura e simplesmente hereditária. Os genes podem ser alterados por muitas reações químicas nos animais e nas plantas durante sua vida. E isso não tem nada a ver com hereditariedade, mas com a bioquímica cotidiana, quer dizer, do dia a dia, dos organismos vivos e sua interações com o meio. Portanto, não é uma loteria, não. Há razões bioquímicas muito claras para produzir essas transformações, mas ainda não sabemos como regulá-las. 

 

Pensar – O senhor tem medo de perder a memória?

 

Izquierdo – Todos temos esse medo. Porque todos sabemos que existe uma doença, chamada Alzheimer, que acaba com nossa cabeça. Mas temos que aprender a conviver com esse medo, até que se descubram as causas e as formas de melhora. Há muitos remédios sintomáticos, que melhoram um pouco a evocação de memória, mas que duram pouco tempo, porque os neurônios vão morrendo, e assim o remédio não tem onde agir. O ideal seria conhecermos bem os mecanismos da doença, 

 

Fonte: Pensar Unimed | Maio – 2014

 

 

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