“Nunca antes na história deste País” – para usar uma das tantas fanfarronices do ex-presidente Lula, o mesmo que ousou afirmar, em 2006, em plena campanha pela reeleição, que a saúde pública brasileira estava se aproximando da “excelência” – os médicos brasileiros foram tão afrontados e ofendidos como em 2013.
Acusados de rejeitarem trabalhos nos pontos mais distantes e na periferia das grandes cidades, os médicos foram jogados no olho do furacão por um governo acuado diante das ruidosas manifestações que sacudiram o País no meio do ano, cobrando combate efetivo à corrupção e clamando por uma saúde “padrão FIFA”, exigindo mais hospitais e menos estádios de futebol.
De repente, os 400 mil médicos formados em cursos de Medicina brasileiros, chancelados pelo Ministério da Educação, foram considerados insuficientes para suprir a demanda da população, em especial a mais carente. Se lá atrás, quando o Cremers e outras entidades do setor começaram a defender a criação de um plano de carreira médica no SUS, a proposta tivesse sido implementada, não haveria a necessidade de tirar da cartola o “Mais Médicos”. Um programa que se propõe, além de injetar recursos oriundos do do baldo dos trabalhadores brasileiros na economia cubana, a suprir uma carência que não existe.
Neste Ano em torno de 18 mil médicos – muito mais do que projeta trazer o programa eleitoreiro do governo federal – estarão ingressando no mercado. Só aqui no Rio Grande do Sul, o Cremers entregou mais de 1.300 carteiras médicas no ano que passou, boa parte delas em solenidades realizadas em sua sede com a presença dos jovens médicos, seus familiares e amigos.
São eventos que ocorrem anualmente. Os deste início de ano trazem uma peculiaridade: são as primeiras turmas de médicos formados após a implantação forçada do programa que esta trazendo para o Brasil milhares de intercambistas, um pessoal autorizado a exercer a medicina sem a necessidade de reavaliar seus diplomas, numa afronta à legislação e com grande risco para a população.
Aliás, a cada exame do Revalida mais fica comprovada a necessidade absoluta de manter esse processo de avaliação como forma de impedir que profissionais mal preparados pratiquem a medicina em nosso País. No Revalida/2013, dos 1.851 inscritos, apenas 109 passaram. Foi o pior percentual de aprovados até agora: 5,9%. E o governo brasileiro dispensa seus intercambistas de fazerem a prova…
O fato é que se o governo colocasse mesmo a saúde como prioridade, como alardeia a cada quatro anos no período eleitoral – em 2006 a saúde se aproximava da ‘excelência’, em 2010 o governo anunciava milhares de UPAs pelo Brasil e agora vem com esse programa que começa a escancarar problemas legais, éticos e morais -, já teria implantado um plano de carreira no SUS.
Hoje, os postos de saúde das periferias mais humildes e dos municípios mais longínquos teriam não apenas médicos, mas uma estrutura mínima realmente eficaz para acolher e tratar os pacientes de forma digna. O governo teria uma quadro fixo de médicos concursados, realmente qualificados e preparados, distribuídos por todo o País, sem a necessidade de importar profissionais de formação bastante duvidosa.
Por mais que os gestores da saúde de modo geral queiram responsabilizar os médicos pelas mazelas da saúde, os fatos comprovam que discursos de caráter populista, pirotecnia e vultuosos recursos aplicados em propaganda não resolvem a falta de leito, a superlotação das emergências, a falta de equipamentos e materiais, e, muito menos, interrompem a longa e cruel agonias que é esperar por consultas com especialistas e realização de exames imprescindíveis ao tratamento.
O que conforta a nós, profissionais da Medicina, é que todos sabem – inclusive os que jogam sobre os ombros da classe médica uma responsabilidade que não é sua – que na hora da dor, do sofrimento, do desespero, poderão sempre contar com um médico. E, se puderem escolher, sem dúvida, irão recorrer a um médico com formação no Brasil, de preferência que atenda em hospitais “padrão FIFA”, com todos os recursos tecnológicos possíveis.
Dr. Fernando Weber Mattos
Presidente do Cremers
Fonte: Revista Cremers