Sem investimentos efetivos, foi aberto terreno para volta de doenças infectocontagiosas, alertou o CFM
Para o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, a incidência crescente de doenças como zika, dengue e chikungunya é resultado direto da falta de investimentos do governo – em suas três esferas – em ações de saneamento no País. O tema foi o primeiro assunto debatido no I Encontro Nacional dos Conselhos Regionais de Medicina (IENCM 2016), realizado de 2 a 4 de março em Natal (RN), com o apoio do Cremern, presidido por Marcos Lima de Freitas.
“Se há três décadas, quando o Aedes aegypti voltou a assustar o Brasil, essas medidas tivessem sido priorizadas, a situação atual seria bem diferente”, afirmou Vital, ressaltando ainda que o montante destinado ao controle desse vetor caiu 60% entre 2013 e 2015, passando de R$ 363,4 milhões para R$ 143,7 milhões.
Desafios – Na conferência, representantes do governo e médicos que atuam no atendimento a pacientes com zika e microcefalia foram unânimes em afirmar que o País enfrenta um quadro de epidemia. Em sua palestra, o coordenador-geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Sérgio Nishioka, afirmou que o governo tem trabalhado no combate ao vetor, nos cuidados com os pacientes e no fomento a pesquisas. Também mudou protocolos, ofereceu cursos de atualização e vai ampliar a rede de laboratórios aptos a realizar exames.
Os aspectos clínicos da microcefalia foram abordados por especialistas como a neurologista infantil do Instituto de Medicina Integrada Fernando Figueira (IMIP) Ana Maria van der Linden, o secretário municipal de Saúde do Recife, Jailson de Barros Correia, e a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco Maria Luíza Menezes. A neurologista Ana Maria van der Linden mostrou como chegou à conclusão de que a microcefalia encontrada em bebês nascidos a partir de outubro do ano passado fora causada pelo zika. Em sua exposição, apresentou imagens de crianças e suas respectivas tomografias de crânio.
Jailson de Barros Correia afirmou que as equipes que estão atendendo bebês com microcefalia estão exaustas. Disse também que o caminho é controlar o vetor. A obstetra Maria Luíza Menezes discorreu sobre o dilema reprodutivo hoje enfrentado pelas mulheres desejosas de ter lho. “Mulheres que já estão com mais de 38 anos e que tinham planejado a gravidez para agora não sabem se enfrentam a situação ou se aguardam, podendo perder a chance de engravidar”, contou.
Fonte: Jornal Medicina – Março 2016