Excesso de informação: sintoma dos tempos atuais

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    Hoje em dia, mal abrimos os- olhos pela manhã e já somos submetidos a uma enxurrada de informações. Um processo que se repete todos os dias, praticamente nas 24 horas do dia, e com o qual já estamos tão familiarizados que nem sempre percebemos o imenso volume de novos dados que processamos, quase sem parar. Seja por meio dos tradicionais veículos de comunicação, pela internet, sites, e-mails, redes sociais, as informações nos chegam ininterruptamente. E mais: também vamos atrás delas, seja por aprendizado, necessidade de atualização, curiosidade e, até mesmo, para identificar sintomas e antecipar possíveis diagnósticos. Como lidar com essa roda-viva? Será que nosso cérebro absorve tudo isso, pode nos prejudicar ou estamos desenvolvendo novas habilidades adaptativas?

     

    “O crescente volume de informações disponíveis nos meios de comunicação e a velocidade com que surgem e se difundem, independentemente da qualidade e conteúdo, representam um grande desafio adaptativo para os cérebros de hoje”, argumenta o neurocirurgião Carlos Eduardo da Silva. “Estudos atuais indicam que este século e suas transformações digitais estão provocando uma modificação do funcionamento cerebral humano. Apesar de ser limitada a capacidade de armazenamento, novas habilidades de processamento das informações estão sendo desenvolvidas pelos ‘novos’ seres humanos”, complementa.

     

    Pesquisas apontam que a geração nascida após o ano 2000, a qual, desde os primeiros anos de vida, contatou com as novas tecnologias digitais interativas e de múltiplas telas sensíveis ao toque, internet de banda larga e outras facilidades, desenvolve o cérebro de maneira distinta daqueles que nasceram antes deste período. “Esta geração, chamada de ‘nativos digitais’, apresenta conexões cerebrais diferentes daqueles que nasceram anteriormente e que tiveram que aprender a lidar com tais tecnologias, sendo assim chamados ‘imigrantes digitais’. Os nativos digitais apresentam uma capacidade superior na realização de múltiplas tarefas ao mesmo tempo, assim como seus cérebros apresentam uma maior velocidade para identificação de determinado assunto que seja relevante em uma pesquisa na internet, quando comparados aos imigrantes digitais. Por outro lado, tendem a ser mais superficiais e voláteis com as informações adquiridas”, diz o médico.

     

    O importante é como cada um lida com as informações

     

    Acessível à maioria da população, a internet nos celulares, tabletes e computadores faz com que respostas às dúvidas relacionadas à saúde sejam acessadas de forma muito rápida. Mas, cabe a pergunta: você se sente seguro com as respostas que encontra na internet? Como sabe se as informações são corretas? Será que sempre é bom recorrer às fontes da rede e chegar “preparado” na consulta médica? Segundo a psicóloga Bárbara Rech, “quando somos acometidos por uma condição médica, independentemente de sua gravidade, reações emocionais são despertadas. A reação dependerá do funcionamento emocional de cada pessoa”. Assim, a questão não é apenas a informação em si, mas como cada pessoa lida com ela.

     

    Por isso, Bárbara enfatiza que, quando bem escolhidas as fontes (sites), o internauta/paciente poderá se beneficiar. “Todavia, nada substitui os anos de estudos do médico, que se preparou para transformar informações em conhecimento e para interpretar dados. Os sintomas precisam ser analisados por alguém que saiba fazer o raciocínio clínico, que leve em consideração o estilo de vida do paciente, sua genética, seu histórico prévio de saúde. Diagnosticar é algo complexo. Escolher o tratamento mais adequado, muitas vezes, é desafiador”.

     

    Paciente cibercondríaco

     

    O cardiologista Wagner Michael Pereira destaca o que chama “cibercondria”, termo usado para designar a atitude de correr para a internet atrás de informações sobre qualquer sintoma ou condição, por mais leve que seja. “Seja pela facilidade de acesso, insegurança ou dificuldades de se obter auxílio médico”, analisa. Ele atenta, também, para o comportamento do “novo paciente”, isto é, aquele que já chega à consulta com alguma informação, considerando que pode ser algo positivo, pois força os médicos a manterem-se atualizados, até mesmo para argumentarem com esse novo paciente.

     

    No entanto, alerta que nem toda a informação é útil e verdadeira: “No Facebook, por exemplo, circulam remédios que prometem curar todo o tipo de câncer, o que é um sério desserviço, pois não existe remédio milagroso”.

     

    Do ponto de vista médico, garante o cardiologista que é preciso ouvir o paciente, mostrar conhecimento e confiança para esclarecê-to, explicando que todo procedimento médico segue protocolos definidos a partir de estudos e pesquisas.

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