A recomendação de interromper o tabagismo para uma mulher que pretende engravidar já está bem estabelecida, porém poucos dados existem em relaçãoà influência desse hábito na fertilidade dos homens. Diante de tal cenário, uma equipe do Setor de Reprodução Humana da Unifesp, em parceria com o Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento do Fleury, desenvolveu um trabalho para verificar o efeito do cigarro na qualidade funcional dos espermatozoides, assim como no perfil proteômico do plasma seminal.
Durante o estudo, os pesquisadores avaliaram amostras de sêmen de 20 homens que fumavam. Como controle, foram obtidas outras 20 amostras de não tabagistas que preenchiam os critérios de qualidade da Organização Mundial da Saúde.
Notavelmente, os fumantes apresentaram uma maior porcentagem de fragmentação do DNA espermático (p<O,Ol), uma diminuição na atividade mitocondrial dos espermatozoides (p<O,Ol) e um prejuízo na integridade dos acrossomas (p<O,Ol), quando comparados aos não fumantes. Ademais, o plasma seminal desse grupo mostrou-se alterado no perfil proteômico – das 422 proteínas identificadas e quantificadas, uma estava ausente, 27, sub-representadas, e seis, superexpressas. Essas diferenças na expressão proteica indicam elevação da atividade inflamatória seminal, devida principalmente a aumento no processamento e na apresentação dos antígenos, regulação positiva da secreção de prostaglandinas envolvidas na resposta imunológica, ativação do complemento e alteração na via de sinalização da proteína quinase A e na secreção do ácido araquidônico.
“Os resultados apontam uma diminuição da qualidade funcional dos espermatozoides em homens fumantes, além de uma associação entre o uso do tabaco e um estado inflamatório que pode ter origem nas glândulas sexuais acessórias e/ou nos testículos”, explica uma das autoras do estudo, a assessora científica do Fleury, Karina Cardozo. “Uma vez que descortina o impacto do cigarro na fertilidade masculina, o trabalho traz um alerta para mais um agravo na saúde associado ao tabagismo, o que reforça a manutenção de políticas públicas para o combate ao hábito”, completa.
Fonte: Revista Fleury