A certidão de nascimento e os ovários

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Corte de ovário com folículos.Quantos anos você tem? Ou melhor, com quantos anos você se sente? Se apagassem a sua memória, quantos anos você se daria?

Talvez você respondesse: Não sinto a idade que tenho! Parece que tenho uns 5 a 10 anos menos! Me sinto tão bem agora, meu físico, minha cabeça, minha saúde, minha experiência, tudo vai bem!

E o seu ovário responderia o quê?

Na verdade, ele é antiquado, finito, e um velho por natureza; parece que ele não tem sonhos projetados para frente e segue rigorosamente a idade cronológica da sua certidão de nascimento. Não importa como você se sente, ele segue dando sinais claros de envelhecimento, e tudo que ele tem a nos oferecer, que são seus óvulos, sucumbem em quantidade e qualidade quando os anos se passam.

O envelhecimento dos ovários é um processo contínuo desde a fase intraútero até a menopausa. Ao nascer, há uma reserva oscitaria em torno de 2 milhões, na puberdade, de aproximadamente 300 a 500 mil, aos 38 anos cai para ±25 mil, e próximo da menopausa o número é menor que mil oócitos. A mulher tem menos que 500 ovulações em sua vida; em cada mês que ela ovula, estima-se que há perda aproximada de mil oócitos por mês. Por vezes, isso pode ser mais rápido ou mais lento, dependendo dos “cuidados” que a mulher têm sobre esse órgão. E o que significa cuidar dos ovários? Muito difundido no cotidiano, “cuidar” dos ovários significa não fumar, não beber, proteger-se das doenças sexualmente transmissíveis, não usar drogas, não se expor a produtos químicos (agricultura, industria, comércio), não sofrer intervenções cirúrgicas sobre o órgão, quimioterapia e, dentre outros, a sorte de nano ter endometriose ovariana.

Antecipando-se a própria certidão de nascimento, o ovário pode envelhecer precocemente e surpreender a mulher com uma falência completa da sua função. Quando ocorre antes dos 40 anos de idade, é definido como falência ovariana precoce e pode acontecer em 1 a 3% das mulheres, sem contar que adolescentes também podem ter esta ingrata surpresa, e a hereditariedade na idade da menopausa pode participar em 30 a 85% dos acontecimentos. A dosagem do Hormônio Antimülleriano (HAM) nos permite estimar a reserva ovariana, mas não há evidências de que ele possa inferir a qualidade dos óvulos. Mesmo levando em consideração que a reserva ovariana não é uniforme nas mulheres, níveis baixos de HAM servem de alerta sobre o futuro reprodutivo.

Ao adiar a maternidade ou ser surpreendida por uma baixa reseva ovariana, a gravidez fica ameaçada, principalmente quando a idade materna é avançada (≥40 anos). Se a fertilização in vitro pode obter índices de gravidez próximo dos 60% em mulheres com menos de 35 anos, apenas ¼ delas engravidam aos 40 anos e somente 3% conseguem aos 45 anos. Em relação às taxas de aborto, que até os 35 anos está na ordem de 15%, se aproxima dos 30% aos 40 anos e alcança os 70% acima dos 45 anos. Outro fato perplexo é a taxa de aneuploidias embrionárias; a média global de todas as mulheres é de 50% e pode ultrapassar a 80% quando acima dos 40 anos.

Frente a tanta adversidade, podemos contar com os milagres? Eles, de fato, existem? E a intervenção de Deus nas nossas impossibilidades, é possível? Até quando a Fé permite atitude passiva na busca da maternidade? Nos tempos de Herodes, até mesmo o sacerdote Zacarias, casado com Isabel (considerada estéril e de idade avançada), não deu o devido crédito às palavras do anjo do Senhor, quando disse que Isabel engravidaria e daria um filho a ele com o nome de João. Por esse desce´edito, Zacarias ficou mudo até depois do nascimento de João Batista.

Nos dias de hoje, dificilmente as mulheres voltem a ter seus filhos muito precocemente. A gravidez tardia tende a se manter. O congelamento de óvulos pode afiançar certa tranquilidade. Contudo, quando o ovário deixa de coadjuvar, a busca por óvulos doados é a alternativa. Na real, tudo o que deixares de fazer na juventude do ovário poderá ter conseqüências nos seus desejos reprodutivos. A maturidade do ovário não traz ganhos reais. Não esqueça de, de quando em vez, consultar a sua certidão de nascimento.

Fonte: João Michelon/Revista FERTILITAT

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